quinta-feira, 2 de julho de 2020

Alteridade



 A alteridade é uma estratégia fundada na ética da fraternidade e da paz; um indicativo de como agir diante dos conflitos do mundo, inclusive os nossos, a fim de que possamos construir o mundo de regeneração, por representar, em sua profundidade, as leis cósmicas de convívio entre os seres.
Na questão 621 de O Livro dos Espíritos, Kardec pergunta onde estão escritas as leis de Deus, obtendo a seguinte resposta: “Na consciência”.
Refletindo sobre as implicações da prática da alteridade pelos seres humanos, pode-se afirmar que esse é um valor que está escrito em nossas consciências e que somente agora começa a ser descoberto. Seu significado reflete uma nova mentalidade, aquela que deverá vigorar na civilização que, certamente, irá transformar a Terra num mundo de regeneração porque se refere à aceitação das diferenças; também significa a não-indiferença, o amar ou ser responsável pelo outro, o aprender com os diferentes, aceitando e respeitando-os em suas diferenças.
A propósito, devemos lembrar que todos os seres humanos são diferentes uns dos outros.
A postura alteritária nos leva a ver todos com bons olhos, lembrando as palavras de Jesus: “Ama o próximo como a ti mesmo”
A pessoa que vivencia a alteridade passa a ser mais fraterna em todos os sentidos, deixando de criticar, julgar, agredir...
As atitudes de não-crítica, não-agressão e não-julgamento deixam o ser em paz consigo
Aí você poderá contestar dizendo que atitudes assim tornam a criatura alienada. Mas há grande diferença entre analisar – com vistas ao próprio aprendizado e também no intuito de ajudar, caso seja viável – e julgar, criticar, enviar uma vibração negativa para o errado, seja ele uma pessoa, uma instituição ou uma nação, já que as instituições e as nações são formadas por pessoas.
Agindo com alteridade, ou seja, sentindo-se também responsável pelo outro, você entende que deve falar-lhe, alertando-o afetuosamente para o erro que está cometendo de forma a não humilhá-lo, encontrando a melhor maneira de ser, junto àquela pessoa, uma presença benéfica, e, caso seja inviável esse alerta, poderá emitir-lhe uma vibração fraterna junto com a ideia de que não se deve pisar a grama.
Desenvolvemos a alteridade respeitando completamente a maneira de ser dos outros, em seus erros, equívocos e até mesmo em suas maldades, lembrando que todos somos seres em diferentes faixas evolutivas, tornamo-nos mais leves, mais de bem com a vida, mais alegres e também mais saudáveis. E se entendermos e aplicarmos verdadeiramente a alteridade, faremos uma prece pelos que estamos observando em erro e lhes direcionaremos vibrações positivas, indutoras de ações mais corretas.
Exercer a faculdade da crítica faz parte do crescimento do ser humano. Só que há dois tipos de crítica, uma é saudável, a outra, não.
Na crítica saudável, podemos dialogar com tranquilidade, debater nossos pontos de vista, trocar idéias, estar abertos para aprender com os outros, enfim, participar ativamente das situações, sempre visando o bem geral. Isto nos torna seres benéficos para nós mesmos e para os outros, tanto em nosso lar, quanto no ambiente profissional, na sociedade, em nossa comunidade.
Mas, se de todo não conseguimos nos conter, ao percebermos que estávamos tecendo críticas ou mesmo comentários negativos sobre alguém, podemos anular os efeitos danosos que atitudes tais podem gerar tanto no criticado quanto em nós, invertendo as ações, ou seja, passando a garimpar os valores de quem estávamos alvejando com nossos pensamentos ou palavras.
Na verdade, a alteridade, em sua essência, deve manifestar-se assim como uma postura ética ou um alicerce interior, sob cujas diretrizes se constrói o nosso pensamento e emoções, dentro de um entendimento mais pleno sobre o ser humano e a própria vida.
Quando, um dia, os valores da alteridade e do amor fizerem parte da vivência das pessoas, o mundo inteiro vai perceber que a vida é bela e vale a pena viver; que o amor é alegria e vai entender que o Cristo voltou.

Excerto do livro “A Transição está pedindo mudanças”
Saara Nousiainen e Simone Ivo Sousa