sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

O Ego e o Espelho

Pensei em escrever algo sobre o ego, mas encontrei em meus arquivos um texto do Osho publicado em “A a Z: Um Diário Espiritual do Aqui e Agora”, que acho muito bom, então o compartilho com vocês.
“Todos nós nascemos sem um ego. Quando uma criança nasce, ela é apenas consciência: flutuando, fluindo, lúcida, inocente, virgem, sem ego.
Aos poucos, o ego é criado pelos outros.
O ego é o efeito acumulado das opiniões dos outros sobre você. Um vizinho chega e diz: Que criança bonita! Olha para a criança com um olhar de apreciação. Então o ego começa a funcionar. Alguém sorri, uma outra pessoa não sorri.
Algumas vezes a mãe é muito carinhosa, outras vezes está muito zangada. E a criança vai aprendendo que não é aceita como ela é.
Seu ser não é aceito de forma incondicional: há condições a serem satisfeitas. Se ela grita e chora e há visitas na casa, sua mãe se zanga. Se ela grita e chora, mas não há visitas na casa, sua mãe não se importa. Se ela não grita, nem chora, sua mãe a recompensa sempre com beijos amorosos e com carinho. Quando há visitas, se a criança sabe ficar quieta, em silêncio, sua mãe fica muito feliz e a recompensa.
A criança vai aprendendo as opiniões dos outros sobre si mesma olhando no espelho dos relacionamentos.
Você não pode ver a sua face diretamente. Você tem que olhar em um espelho, e no espelho você pode reconhecer sua face. Esse reflexo se torna sua ideia de sua face, e há milhares de espelhos a seu redor, todos eles refletindo algo.
Alguém o ama, alguém o odeia, alguém é indiferente. E então, aos poucos, a criança cresce e continua acumulando as opiniões de outras pessoas.
A essência total dessas opiniões dos outros constitui o ego. A pessoa começa a olhar para si mesma da forma como os outros a veem. Começa a se olhar de fora: isso é o ego.
Se as pessoas gostam dela e a aplaudem, ela pensa ser bela, estar sendo aceita. Se as pessoas não a aplaudem e não gostam dela, rejeitando-a, ela se sente condenada.
Ela está continuamente procurando formas e meios para ser apreciada, para ser repetidamente assegurada de que possui valor, que possui um mérito, um sentido e um significado.
Então a pessoa passa a ter medo de ser ela mesma. É preciso encaixar-se na opinião dos outros.
Se você deixar de lado o ego, subitamente se tornará novamente uma criança. Você não estará mais preocupado com o que os outros pensam sobre você, não prestará mais atenção àquilo que os outros dizem de você.
Nesse momento, terá deixado cair o espelho. Ele não tem mais sentido: a face é sua, então por que perguntar ao espelho?"

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Sobre a Finitude

Com a revolução industrial, passou a predominar a crença  de que uma qualidade de vida superior resulta  de melhores condições materiais, acumuladas no decorrer da vida.
Passou-se a enaltecer valores como conforto, vida regrada , casamento feliz, trabalho que renda bens materiais, com o prestígio daí resultante. 
Esqueceu-se  de que esses valores, ainda que desejáveis, são sempre exteriores, podem exigir  muitos anos  de empenho, e nem sempre  são obtidos por meios lícitos. Acarretam uma preocupação exagerada com o status quo, deixando de lado a vida interior.
Infelizmente, essa  perda só é percebida quando o indivíduo se dá conta do que deixou passar, por não ter cultivado a sua espiritualidade, ocupando o seu cérebro com ideias de como ganhar mais dinheiro. Nesse período, em que ficou mergulhado no mundo exterior, provavelmente, já adquiriu alguma doença incapacitante.
Viver bem não é só continuar existindo e o sentido da vida não é só sobrevivência, mesmo que seja nas melhores condições materiais.
O caminho para  desenvolver  um estilo de vida  saudável consiste em manter a alegria de viver, criar coisas novas, conviver bem com as pessoas próximas, com a natureza e com o Universo. Esse estilo de vida vai determinar  um envelhecer bem sucedido e não deve ser confundido com o cultivo do prazer dos sentidos.
Cuidar de si é uma arte, um privilégio, com autonomia  para não se sujeitar  às conveniências do lazer exterior.
Quando o indivíduo se dá conta da finitude, pelas próprias  limitações da existência, deve contentar-se com as suas realizações, sem reter amarguras e frustrações, bem como raiva e inveja, sentimentos prenunciadores de doenças.
Como ensinam as ciências da vida e da saúde e a reflexão filosófica e religiosa, mas também e - sobretudo a própria experiência cotidiana - morte, finitude e vulnerabilidade são características intrínsecas dos sistemas vivos, os quais são sistemas jogados no mundo e situados no tempo, submetidos a um processo irreversível que inclui o nascer, o crescer, o decair e o morrer.
Trata-se de um fato incontestável perante nossos sentidos: todos os seres vivos, inclusive os humanos, morrem. Morrem porque estão vivos, porque como sistemas irreversíveis são programados biologicamente para morrer e, talvez, devam morrer para que outros seres da mesma espécie possam vir a ser.
Por isso, não podemos ter certezas acerca das crenças sobre nossa morte. De fato, a ciência teve poucas certezas ao longo de sua breve história, sendo que hoje ela não tem mais nenhuma.
Sendo assim, vida e morte devem ser consideradas como as duas faces inseparáveis da existência humana, durante a qual são mediadas pelas situações de finitude chamadas vulnerabilidade.
Por isso, para Sêneca, um dos homens mais poderosos de Roma, viver é aprender a morrer.