segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Suicídio - O Grande Equívoco


Vinde a mim, vós todos os que estais 
aflitos sob o fardo, e eu vos aliviarei. 
Tomai meu jugo sobre vós e receberei minha doutrina, 
porque eu sou manso e humilde de coração, 
e achareis repouso para as vossas almas. 
Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve.” (Mt 11. 28-30) 

Segundo Allan Kardec, a passagem do Ser Espiritual pelas encarnações é uma necessidade, que tem como objetivo levar o espírito à perfeição, onde todos são criados simples e ignorantes e se instruem através das lutas e atribulações da vida corporal e, ao mesmo tempo, cumprem sua parte na obra da criação.
De acordo com Altair F. Cunha, nessa linha de raciocínio se encontra uma lógica para o problema do ser, da dor e para o paradoxo do Suicídio. Assim, mesmo que o ser humano sofra desarmonias, não há um determinismo ao suicídio, mesmo que haja tendência, a escolha é individual de sucumbir ou não a ele.
Jamais devemos confundir sujeição do indivíduo ao erro com determinismo ao erro. A sujeição é resultado da própria imperfeição, característica do atual estágio de evolução do homem, seria uma tendência ao erro, com a possibilidade de superação de acordo com o uso do seu livre arbítrio. Já o determinismo seria uma submissão inevitável ao erro.
Na ótica espírita, o suicida é um Espírito imortal, que teve outras oportunidades reencarnatórias, onde - por meio de transgressões às leis da vida - gravou em seu perispírito as desarmonias que hoje o atormentam. Assim, tem em si fatores predisponentes (matrizes), que quando não se encontra amparado pelas ações fortalecedoras (fé, caridade, oração, perdão...) acabam sendo desencadeantes para depressões e obsessões que podem resultar em suicídio. No entanto, o suicídio é sempre um desvio de rota, jamais um programa existencial.
Segundo Richard Simonetti, o perispírito é molde da forma física. Se há desajustes nele devido ao suicídio, o corpo físico será plasmado com alterações variadas, de acordo com a agressão que o indivíduo cometeu contra si mesmo. Cunha, explica que o espírito ao reencarnar, com a mente em desalinho, gera um campo de força específico que atrai os componentes genéticos mais adequados para a sua experiência.
Cunha, afirma que a maioria das pessoas que ameaçam suicidar-se são suicidas em potencial, indo contra o senso comum que apregoa que quem diz que vai se matar não o fará. Ou, aquele velho ditado: Cão que ladre não morde!
O suicídio cria refolhos no ser, predisposições à repetição do ato. Por isso, é muito comum a tendência ao suicídio num Espírito que já foi suicida. Assim, por prudência, em casos reincidentes, onde o efeito da culpa poderia se prolongar indefinidamente é planejada uma reencarnação reparadora, normalmente curta, com o intuito de amortecer as desarmonias vibratórias, voltando o espírito ao plano espiritual mais aliviado dos dramas conscienciais, para preparar-se para novos empreendimentos na carne.
É importante pontuar que os espíritos reencarnam em grupos afins, por isso, não é raro encontrar em algumas famílias uma tendência familiar ao suicídio. Pois o grupo se reúne em ambiente familiar buscando um resgate conjunto.
Vale esclarecer que, embora a ciência desconheça, para o Espiritismo existe um fator considerado um dos mais importantes na sucessão e concretização das ideias suicidas – a obsessão. Que seria a influência perniciosa que certos Espíritos desencarnados exercem sobre os encarnados.
Todo espírito, encarnado ou não, possui livre arbítrio, se tornando assim responsável pelo que acatar das sugestões oferecidas por entidades espirituais. Essas influências podem ser boas ou más, de acordo com o nível de esclarecimento do Espírito que as provocam, da mesma forma que há indutores de ideação suicida há auxiliadores de sugestões positiva.
A vida é um patrimônio individual, entretanto, devido à interdependência através da qual é gerada e perpetuada, torna-se um patrimônio coletivo. Dessa forma, suicidar-se não é apenas um fenômeno de autodestruição, mas, sim, de destruição de esperanças e causa de muitos sofrimentos aos familiares, amigos e outros que de forma direta e indireta se vinculam ao suicida.
De acordo com Cunha, suicídio, na ótica espírita, não é apenas o gesto precipitado de autodestruição realizado por alguém aturdido de suas provações ou pela loucura. Sempre que alguém, através dos excessos e precipitação, provoca desequilíbrios e desgaste físico e mental em si mesmo, será reconhecido como suicida. Assim, conclui-se que os chamados suicidas diretos são a minoria, comparados a outros, denominados suicidas indiretos. Porém, vale ressaltar que os resgates são proporcionais à consciência que se tem dos erros cometidos. Suicídio é uma grave enfermidade do Espírito, podendo ser estimulado por fatores externos.
É comum no meio espírita o pensamento de que todo suicida permanecerá em sofrimento em regiões sombrias, como o Vale dos Suicidas, até que complete o tempo que teria no corpo físico. Não se pode generalizar, pois sempre existirão agravantes e atenuantes. Entretanto, através de revelações dos mentores espirituais, o sofrimento do suicida é superior a qualquer sofrimento que ele tenha experimentado enquanto encarnado. Quanto maior o esclarecimento e a consciência do erro cometido, maior será o sofrimento.
Para entender os motivos do sofrimento do suicida é importante se ter claro que o homem é um composto formado por: espírito, perispírito e corpo físico. O corpo físico é transitório e entra em decomposição algumas horas após o desencarne. Mas o perispírito do suicida, por ter antecipado o seu retorno, entra no plano espiritual impregnado de vitalidade. Sendo ele um corpo intermediário (fluídico), que acompanha o espírito, registra todas as impressões, boas e más advindas do corpo físico. Neste caso, poderá registrar o processo após a morte do corpo.
Simonetti esclarece que os suicidas não perderam a filiação divina, nem estão confinados eternamente em regiões infernais. Deus faz-se presente, representado por mensageiros do Bem que observam e amparam, ainda que, em sua confusão mental e nos tormentos que os afligem, não conseguem ter consciência dessa aproximação.
Segundo Cunha, o suicídio é o maior equívoco que alguém pode cometer. A falta de conhecimento da imortalidade da alma e a falta de fé são fatores complicadores. A vida continua após o estágio no corpo físico. Cada desencarnado acordará no plano espiritual com suas virtudes e vícios, essa é a grande decepção sofrida pelos que ingressaram no Mundo Espiritual pelo suicídio.
De acordo com Simonetti, quem estuda a Doutrina Espírita e cultiva a reflexão em torno de seus princípios, dificilmente colocaria fim à vida, pois tem consciência de que as atribulações existenciais apresentam-se como uma oportunidade de resgate, um reajuste diante das leis divinas, com vistas a um futuro melhor. O suicídio seria uma fuga dos problemas considerados insuportáveis.
Segundo Cunha, a calma, a resignação e a confiança no futuro dão ao Espírito uma serenidade que é o melhor preservativo contra a loucura e o suicídio. Simonetti afirma que a mudança de atitude corrige desarmonias vibratórias que poderão refletir no composto celular em forma de cura. Sempre chega o momento de mudar, a partir do próprio indivíduo, ansioso por libertar-se de seus condicionamentos.

Elizângela Rodrigues Mota

Graduanda em Psicologia

Fontes Consultadas:

BÍBLIA SAGRADA. Edição Pastoral, São Paulo: Ave Maria, 1959.

CUNHA, F. Altair da. Um trágico equívoco: o suicídio e suas consequências conforme o Espiritismo.Matão, SP: O Clarim. 2010.

KARDEC, Allan. O livro do Espíritos. 178ª Araras, SP: IDE Editora, 2008.

SIMONETTI, Richard. Suicídio: Tudo o que você precisa saber. 6ª. ed. Bauru, SP: CEAC, 2012.

terça-feira, 11 de agosto de 2015

Atores e Personagens

Nossa vida diária pode ser comparada à atuação em uma peça teatral, novela ou filme. Absorvemo-nos tanto em nossos papéis temporários que nos esquecemos, por completo, de nossa verdadeira identidade fora de cena.
Algumas pessoas estão fazendo o papel de nossos pais, outras estão atuando como nossos amantes e outras como nossos amigos ou inimigos, mas, na verdade, tudo isso é interpretação; nossa verdadeira identidade é diferente.
Nosso corpo não é nada além de um figurino, mas, iludidos, identificamo-nos com ele e tentamos nos relacionar com o mundo com base nessa fantasia. Os relacionamentos resultantes não são falsos; são reais, mas são temporários e, portanto, ilusórios.
Quando o filme acaba – quando a morte se faz presente – todos os diferentes relacionamentos que cultivamos durante nossa vida estarão acabados, e nosso verdadeiro eu, o espírito individualmente consciente, será transferido para uma nova situação.
Quando o filme acaba, o ator continua sendo a mesma pessoa, porém acrescida da experiência de seu trabalho, provavelmente um ator melhor qualificado para outras interpretações. 
Não podemos esperar que o ator (o espírito) continue sua vida pós-drama carregando os cacoetes e o nome do personagem. Ele volta a ser o quem ele é.
Quando desencarnamos, voltamos à nossa consciência de espírito e não olhamos para trás, pois o drama acabou, olhamos para frente, para o que nos reserva o Universo. Por isso ninguém volta para contar nada. É preciso esquecer o que vivemos para poder seguir em frente, senão ficaríamos presos aos personagens que desempenhamos aqui.
Existem atores de cinema que incorporam de tal forma seus personagens de sucesso que gravam novos filmes com o mesmo personagem. Os Rambos da vida, mas nós não precisamos voltar para viver duas ou mais vezes o mesmo papel.
Nossos laços familiares se desfazem e seguimos em frente cercados de nosso grupo espiritual.