quinta-feira, 21 de maio de 2020

Corpo de Dor

No caso da maioria das pessoas, quase todos os pensamentos costumam ser involuntários, automáticos e repetitivos. 
Não são mais do que uma espécie de estática mental e não satisfazem nenhum propósito verdadeiro. Num sentido estrito, não pensamos- o pensamento acontece em nós.
“Eu penso” é uma afirmação simplesmente tão falsa quanto “eu faço a digestão” ou “eu faço meu sangue circular”.
A digestão acontece, a circulação acontece, o pensamento acontece.
A voz na nossa cabeça tem vida própria. A maioria de nós está à mercê dela; as pessoas vivem possuídas pelo pensamento, pela mente.
E, uma vez que a mente é condicionada pelo passado, então somos forçados a reinterpretá-lo sem parar.
O termo oriental para isso é carma.
O ego não é apenas a mente não observada, a voz na cabeça que finge ser nós, mas também as emoções não observadas que constituem as reações do corpo ao que essa voz diz.
A voz na cabeça conta ao corpo uma história em que ele acredita e à qual reage.
Essas reações são as emoções.
A voz do ego perturba continuamente o estado natural de bem-estar do ser. Quase todo corpo humano se encontra sob grande tensão e estresse, mas não porque esteja sendo ameaçado por algum fator externo - a ameaça vem da mente.
O que é uma emoção negativa?
É aquela que é tóxica para o corpo e interfere no seu equilíbrio e funcionamento harmonioso.
Medo, ansiedade, raiva, ressentimento, tristeza, rancor ou desgosto intenso, ciúme, inveja - tudo isso perturba o fluxo da energia pelo corpo, afeta o coração, o sistema imunológico, a digestão, a produção de hormônios, e assim por diante.
Até mesmo a medicina tradicional, que ainda sabe muito pouco sobre como o ego funciona, está começando a reconhecer a ligação entre os estados emocionais negativos e as doenças físicas.
Uma emoção que prejudica nosso corpo também contamina as pessoas com quem temos contato e, indiretamente, por um processo de reação em cadeia, um incontável número de indivíduos com quem nunca nos encontramos. Existe um termo genérico para todas as emoções negativas: infelicidade.
Por causa da tendência humana de perpetuar emoções antigas, quase todo mundo carrega no seu campo energético um acúmulo de antigas dores emocionais, que chamamos de “corpo de dor”.
O “corpo de dor” não consegue digerir um pensamento feliz. Ele só tem capacidade para consumir os pensamentos negativos porque apenas esses são compatíveis com seu próprio campo de energia.
Não é que sejamos incapazes de deter o turbilhão de pensamentos negativos - o mais provável é que nos falte vontade de interromper seu curso. Isso acontece porque, nesse ponto, o “corpo de dor” está vivendo por nosso intermédio, fingindo ser nós. E, para ele, a dor é prazer. Ele devora ansiosamente todos os pensamentos negativos.
Nos relacionamentos íntimos, os “corpos de dor” costumam ser espertos o bastante para permanecer discretos até que as duas pessoas comecem a viver juntas e, de preferência, assinem um contrato comprometendo-se a ficar unidas pelo resto da vida.
Nós não nos casamos apenas com uma mulher ou com um homem, também nos casamos com o “corpo de dor” dessa pessoa.
Pode ser um verdadeiro choque quando - talvez não muito tempo depois de começarmos a viver sob o mesmo teto ou após a lua-de-mel – vemos que nosso parceiro ou nossa parceira está exibindo uma personalidade totalmente diferente. Sua voz se torna mais áspera ou aguda quando nos acusa, nos culpa ou grita conosco, em geral por uma questão de menor importância.
A essa altura, podemos nos perguntar se essa é a verdadeira face daquela pessoa – a que nunca tínhamos visto antes - e se cometemos um grande erro quando a escolhemos como companheira. Na realidade, essa não é sua face genuína, apenas o “corpo de dor” que assumiu temporariamente o controle.
Seria difícil encontrar um parceiro ou uma parceira que não carregasse um “corpo de dor”, no entanto seria sensato escolher alguém que não tivesse um “corpo de dor” tão denso.
O começo da nossa libertação do “corpo de dor” está primeiramente na compreensão de que o temos.
É nossa presença consciente que rompe a identificação com o “corpo de dor”. Quando não nos identificamos mais com ele, o “corpo de dor” torna-se incapaz de controlar nossos pensamentos e, assim, não consegue se renovar, pois deixa de se alimentar deles. Na maioria dos casos, ele não se dissipa imediatamente.
No entanto, assim que desfazemos sua ligação com nosso pensamento, ele começa a perder energia.
A energia que estava presa no “corpo de dor” muda sua frequência vibracional e é convertida em “Presença”.
Eckhart Tolle

domingo, 17 de maio de 2020

Sobre a Caridade



Nenhum homem pode ser feliz enquanto estiver rodeado de vibrações de discórdias. Um dos grandes obstáculos ao conveniente desenvolvimento espiritual da humanidade, em todos os países civilizados, tem sido a chamada caridade.
O assunto exige bastante reflexão para ser bem compreendido. A caridade trata apenas dos efeitos da pobreza e não da causa. Não acreditemos no trato dos efeitos.  Acreditemos no tratamento da causa.
Sabemos que, em muitos casos, a prática da caridade produz o mal em vez do bem. Procuremos eliminar a causa da pobreza e não haverá necessidade de caridade. Isto pode ser feito aplicando a lei: “O que temos, de material, apenas conservamos em confiança para o homem que tem mais necessidade do que nós, e é nosso dever dar-lhe, desde que ele dê algum valor em troca”. 
Dar valor em troca não quer dizer necessariamente que o mesmo valor deve ser dado àquele de quem se recebeu, porém que, quando o recebedor estiver em condições, deve dá-lo à humanidade, numa corrente do bem.
Deus nos deu inteligência para perceber, pelas vibrações transmitidas pelo homem, se ele merece alguma coisa do que temos em confiança.
Existem muitos homens na Terra, que não tem força de vontade para vencer estas más inclinações e precisam ser auxiliados. Existem muitas poucas pessoas que podem atingir um plano superior de desenvolvimento espiritual sem o auxílio, não só dos poderes superiores, mas também dos homens que estão na Terra.
Ajudai um homem a melhorar suas condições na Terra e sereis mais capaz de ajudá-lo a preparar um melhor lugar para si no mundo espiritual. O homem que sofre nessa Terra encontra muita dificuldade para atingir um plano espiritual superior sem auxílio.
Não há Milagres. Tudo o que acontece é governado pela Lei Divina.
A cura dos doentes apenas é um alívio temporário. A verdadeira obra é ensinar como permanecer em boa saúde.
Ajudar um homem a beneficiar a si mesmo é a grande obra cristã. Não roubeis a Paulo para pagar a Pedro. Existem muitos outros meios. Muitas crianças morrem de miséria quando um copo de leite as salvaria. Muito dinheiro foi dado por leite que as crianças nunca obtiveram. É dever nosso saber quando e como dar.   
Deus não pôs o homem nesta Terra para sofrer, nem criou a pobreza e as aflições. Todas essas coisas são artificiais e foram criadas pelo homem, sendo manifestações exteriores de discórdia ou de forças contrárias à divina.
Todavia , apesar de tudo o que o homem fez contra as divinas leis e forças do Altíssimo, os poderes superiores estão sempre prontos e dispostos a ajudar aqueles que procuram a verdadeira direção.
Faça a pergunta: Como posso ajudar?
Um vivo desejo de ajudar é o primeiro passo para receber o poder de ajudar, então o poder e a direção serão dados aos que pedem, pelas inteligências superiores.
Se desejais ajudar os outros, fazei um exame de vós mesmos e retificai, à proporção que puderes, qualquer discórdia que se encontra no vosso íntimo; desta forma vos colocareis em harmonia com os poderes superiores e recebereis com inteligência mensagens da parte deles, que vos guiarão em vosso trabalho
É quando o homem pede auxílio que se deve ajudar, pois esta é a única ocasião em que este está apto a receber ajuda.
Ajudar um homem a beneficiar a si mesmo é o maior bem que pode ser feito ao homem, e que o levará a maior felicidade, e ajudá-lo a repelir as ideias tóxicas que estão dentro dele.

Albert Van Der Naillen
Excerto da obra “A Grande Mensagem” de 1944