sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Sobre a Paixão


Ah o amor, esse sentimento, essa força, essa energia que brota de nosso interior, em versões tão distintas que parecem sentimentos diversos.

Quando ele nos chega assim de mansinho deixando-nos enamorado por uma idéia, uma proposta, uma pessoa de carne e osso. Vem quase imperceptível disfarçado de simpatia, admiração, entusiasmo. Catalisa nossa propensão a investir numa idéia. Leva-nos a concentrar nossas forças no sentido de levar adiante a proposta que nos acena como algo bom, correto, saudável.

Mas quando ele chega avassalador, então, ao contrário de quando chega de mansinho, o reconhecemos como paixão. Um amor dotado de um furacão como mola propulsora, concentra toda nossa atenção no objetivo, nos cega para o entorno, nos domina, nos expõe ao mundo como alguém fora da “casinha”.

O mesmo amor, em dosagens diferentes, levando a resultados diferentes.

Haveria um filtro dosador para o amor?

Diferenciamo-nos dos demais animais por possuirmos o raciocínio. Esse diferencial implantado no homem em remotas eras nos deu a capacidade de pensar, de decidir o que é bom e o que é ruim para nós e para o planeta.

Há em todos os animais esse potencial amoroso que entendemos como instinto traduzido numa ética existencial e que regula a existência da fauna.

Com a descida do espírito santo - a intervenção dos céus sobre nós - nos tornamos diferenciados no contexto da criação. O raciocínio foi a mola propulsora para chegar aonde chegamos, como seres sociais, embora ainda contemplemos a barbárie se expressando em alguns lugares e momentos, inclusive de nossas vidas.

A razão nos centra, nos faz ponderar, nos faz cair na realidade do contexto.

Então podemos pensar na razão como o filtro dosador para a expressão do amor.

Razão e sensibilidade, duas faces da presença divina em nós, contrabalançando um viver saudável. Buscar esse equilíbrio está na raiz daquilo que chamamos de desenvolvimento espiritual, transformando o ser humano aqui e agora, porque o viver na Terra é uma das fases do desenvolvimento do espírito.

Quando tomados pelo fogo da paixão, torna-se necessário acionarmos o filtro da razão para que essa explosão amorosa nos leve a um lugar tranqüilo, feliz e em harmonia com o entorno.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Sobre a Vontade


Vontade é a força psíquica que move o ser humano e põe em função as definições da inteligência para a defesa e superação do indivíduo.

A falta de vontade anula essas possibilidades e lança o ser humano no estado de indiferença e na inércia, faz fracassar a inteligência e chega a desfigurar a sensibilidade, porque o coloca refém das tentativas e contingências que o espreitam.

Os movimentos da vontade são impulsionados por dois fatores: necessidade e estímulo.

A necessidade atua sobre a vontade, determinando movimentos quase automáticos que forçam o ser humano a realizar até as coisas que não gostaria de fazer espontaneamente.

O estímulo age também sobre a vontade ativando a inteligência e o sentimento.

A vontade se excita e adquire força quando o estímulo intervém.

Quando o ser humano não vê perspectivas em seu futuro a vontade, carente de estímulos perde seu vigor e fica por conta do acaso.

Conhecida a causa determinante da falta de vontade torna-se necessário eliminar essa causa. Se ante a perspectiva de fazer uma viagem sentimos prazer em arrumar as malas, com maior razão devemos abastecer nossa vontade com estímulos capazes de preencher integralmente as necessidades do nosso viver cotidiano.

O estímulo aflora do propósito e sustenta o entusiasmo que é necessário manter durante o prosseguimento da execução de um projeto existencial. Entretanto é necessário que o entusiasmo originado por uma esperança não seja inflado por excessos de ilusão.

Podemos começar por pequenas esperanças enquanto nos capacitamos para semear de estímulos nossos projetos de vida.

Se temos visto, em muitas circunstâncias da vida, que a vontade opera por pressão da necessidade, por que não exercitá-la por meio de incentivos que a obriguem a servir-nos com eficiência?

Assim agindo, por um lado ficaremos felizes em saber que temos essa capacidade, e, por outro, a satisfação quando colhermos os frutos de nossa semeadura.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

De Crenças e Fanatismos


Quando um ser humano tem a inclinação a crer, movido por algum motivo circunstancial, as faculdades da inteligência são afetadas em suas funções, pois se produz um adormecimento temporário da mente.

Este hábito costuma ter efeitos danosos para a alma, porque, ao provocar a inércia da inteligência, pode levar ao fanatismo, que é a negação do juízo e do bom senso.

Sua causa real é a ignorância. Observa-se que quem tem essa vocação revela um estado mental precário.

A inclinação a crer é própria de quem não tem o hábito de pensar - e não quer pensar - um ser mentalmente acomodado, que, antes de decidir-se a investigar, por si mesmo, as questões que o preocupam ou lhe interessam, se mantém confiado na opinião dos outros.

Refratário ao estudo atento, sereno, reflexivo, sua opinião reflete sua incapacidade de pensar. É comum que esse tipo de ser humano, se mostre fanático por uma idéia, uma crença, etc., situação a que nunca chega o homem acostumado a pensar livremente, a raciocinar com amplitude, a formar para si um juízo das coisas.

A falha tem, muitas vezes, origem na educação familiar, quando a criança não é incentivada a fazer uso de sua inteligência, para que possa discernir, por si mesma, o real do irreal, o verdadeiro do falso, o sensato do absurdo, consentindo-se, ao contrário, que sua mente seja tomada pelas crenças, de fácil assimilação.

Com esse pendor a crer o ser acaba por se tornar um adulto inseguro.

Quando envolvido em questões espirituais, acaba por caminhar sobre o tênue fio que separa o fanatismo da loucura.

O saber que se adquire, por meio do estudo e da experiência, põe o ser humano a salvo dos riscos a que o expõe esta danosa inclinação.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Caminhos longos e curtos


Disse o rabi Ioshua:

"Certa vez uma criança arrebatou o melhor de mim. Eu viajava e me encontrava diante de uma encruzilhada. Vi então um menino e lhe perguntei qual seria o caminho para a cidade.

- Este é o caminho curto e longo e este, o longo e curto – respondeu ele.

Tomei o curto e longo e logo deparei com obstáculos instransponíveis de jardins e pomares. Ao retornar, reclamei:

- Meu filho, você não me disse que era o caminho curto?

O menino respondeu:

- Porém lhe disse que era longo!"

Na trilha da sobrevivência, a “mesmice” muitas vezes é o caminho curto, o mais simples, e que tem os custos mais elevados. Ir pelo caminho mais simples e mais curto é uma lei evolucionista. Certamente os corpos se movem na direção mais imediata e curta. Os galhos buscam a luz e o animal, a água, mas sua inteligência interna, sua alma, está atenta as longas modificações.

A tentativa de sobrevivência acontece nos campos de batalha do mundo curto e do mundo longo. As chances de extinção dos que percorrem caminhos curtos que são longos é muito grande. As espécies sobreviventes são aquelas que souberam fazer opções pelo longo caminho curto.

Em nosso dia a dia sabemos muito bem quais são os processos curtos e quais sãos os longos. Fazemos também nossas opções por padrões que optam pelo curto. Mas nossos mecanismos de detectar se são “curtos longos” ou “longos curtos” existem, e sempre estão aí para apontar novos inícios, por exemplo, de relações de trabalho, amor ou amizade.

A coragem está em ouvir o menino das encruzilhadas.

Ele, com certeza, alerta para ambas as possibilidades de caminho. Este menino das encruzilhadas é a alma. Não se assuste com as parábolas que falam de demônios das encruzilhadas. Os demônios das encruzilhadas querem sempre apontar os caminhos mais “curtos”. Ninguém que alerte para o fato de que os “curtos podem ser longos” e os “longos podem ser curtos” é de ordem demoníaca.

Afinal, as encruzilhadas são de grande importância. Não são meras opções de acesso, mas de sobrevivência, e o curto caminho longo pode não levar a lugar nenhum. Se você estiver diante de uma encruzilhada, lembre-se do menino e preste atenção para não ser seduzido, pelo corpo, por um caminho curto.

Lembre-se de que a paz está primeiro com quem vem de longe.



Do Rabino Nilton Bonder em “A Alma Imoral”

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

O Canal



“Há mais mistérios entre o céu e a Terra do que supõe a nossa vã filosofia", já nos dizia William Shakespeare em sua notável peça Hamlet.
Passamos a vida canalizando e não nos damos conta. Falo de canal de luz, uma atividade humana que é exercida em sua grande maioria das vezes sem que o indivíduo perceba.
Servimos de canal para espíritos encarnados e desencarnados de todos os níveis, consciente e inconscientemente. Somos porta-vozes de tantos interesses e muitas vezes não nos damos conta.
Quando entramos em ondas de pensamento, de ideias, de modismos que nascem em outras mentes com interesses os mais diversos, acabamos por veicular ou canalizar desejos que querem ser materializados e nos prestamos a esse serviço.
Dá para ter ideia do que somos capazes de fazer nesse sentido?
Um susto? Sim, se pararmos para pensar no assunto tomaremos um susto, pois perceberemos que podemos ter sido ou estar sendo usados como canais para ideias e vontades que nada tem a ver com nossa proposta existencial.
É preciso estar bem atentos aos sentimentos que nos afloram, concomitantes com os pensamentos, para podermos separar o joio do trigo.
Para todo pensamento temos uma contrapartida emocional. A onda que carrega a vibração do pensamento leva, anexada, também, a vibração do sentimento experimentado por que o emitiu.
É o sentimento que se alia ao pensamento que faz a diferença, que lhe dá intensidade e que o materializa ou não. Também, é o sentimento, que confere ao pensamento a sua natureza, se benéfica ou maléfica.
A diferença entre magia branca e negra está fundamentalmente diferenciada pela intenção com a qual o pensamento é emitido.
Tudo o que criamos é magia, tudo nasce no pensamento para depois se materializar. Uma xícara ou uma criança - tanto faz - tudo foi pensado, desejado, criado no éter e depois por mudança de frequência, tornado visível no plano tridimensional.
Nem sempre quem pensa algo o materializa. Como o pensamento, uma vez emitido, fica vibrando no éter, outra pessoa pode captá-lo e acreditar que teve um insight, ou uma ideia, e por gostar dessa ideia, move-se no sentido de juntar o necessário para torná-la real aos olhos do mundo.
Canal. Nesse momento essa pessoa torna-se canal para essa ideia.

Queremos um mundo melhor? O que seria bom e que tornaria nosso mundo melhor? Pensemos, pensemos, pensemos com muito amor e responsabilidade.

Está na Hora



Imagine que só lhe reste um ano de vida.

O que você faria nesse curto de tempo que lhe resta?

O que priorizaria? Viagens ao exterior? Restaurantes exóticos? Ter um relacionamento com alguém especial? São muitas as alternativas para viver intensamente um tempo tão curto, não é mesmo?

Penso que se eu fosse colocado nessa situação, inicialmente não mudaria nada na minha rotina, continuaria fazendo as coisas que faço atualmente, mas procuraria fazer melhor.

Decidiria por fim a qualquer mentira, e encararia a verdade em todas as situações, por mais inconveniente que ela pudesse parecer.

Ampliaria a autenticidade das minhas idéias e minha conduta, sem ser pernóstico ou cruel, mas procurando colocar minhas verdades de maneira clara e simples.

Diria sim, a quem amo, e não pouparia palavras nem atitudes para demonstrar os meus sentimentos. Iria muito longe, atravessaria um oceano se necessário fosse, para ver bem perto dos meus, os olhos de quem amo.

Rolaria nas dunas da Lagoa da Conceição e mergulharia novamente nas águas do Rio Nilo ou em qualquer rio saudável para demonstrar minha gratidão a Terra, que me acolheu por tanto tempo em tantas experiências carnais.

Eu correria para o abraço dos meus netos e da criança que fui um dia e cantaria as cantigas de roda que nunca cantei.

Não perderia tempo com saudosismo, com mágoas, com rancores, com indiferenças, viveria todos os minutos com alegria e experimentaria tudo o que a vida me apresentasse para viver, sem preconceitos, sem medo de ser feliz.

Mas, quanto tempo ainda me resta de verdade?

Não sei, creio que ninguém sabe.

Então está na hora de levar a sério essa idéia de trocar meus dias sem graça por dias melhores e viver intensamente tudo o que o universo me presentear. Deixar de lado a burocracia e os protocolos estabelecidos num projeto de vida sem sal, sem aventura, sem descobrimentos, sem prazer.

Está na hora de encarar a minha verdadeira proposta existencial, para viver em plenitude o tempo que me resta, se um ano, uma semana, ou mesmo um só dia especial.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Culpa e Responsabilidade


Estamos há tanto tempo carregando o peso da culpa que nos foi imposta pelo clero, que ainda é difícil assumir as responsabilidades que são inerentes ao viver em sociedade.
Com nossa educação baseada no binômio culpa/castigo estamos, no alvorecer de uma nova era, começando a entender o jugo da dominação cristã no mundo ocidental.
A imprensa ocidental tenta nos convencer que o domínio de outras teocracias é perigoso para a liberdade humana. Ouvimos muito isso quando falam das agressões e guerras constantes no oriente médio, com o Estado Islâmico fazendo tremer as bases das democracias européias.
Esquecem que o clero cristão demoliu, e quase erradicou por completo, as culturas da Europa, Américas e África, impondo um modo de entender o Universo sob a ótica do Deus que julga. Com a arrogância de falar em nome Dele trucidaram tudo que contrariasse seus interesses de dominação.
Vivemos no ocidente, após a invasão branca, um período onde a culpa foi aceita como virtude, pois que a tortura mental de se sentir culpado por nossos erros nos foi ensinado como forma de expiar nossos pecados. Nesse pacote cristão veio todo um arsenal de tortura psicológica que incluía, pecado, culpa e expiação.
Graças a Deus, tudo no mundo se recicla. Os esclarecimentos oriundos dos espíritos por intermédio dos médiuns e a psicologia vem nos dando ferramentas para nos libertar desses conceitos que amarraram as mentes durante tantos séculos.
Antoine de Saint-Exupéry nos ensinou que “somos responsáveis por quem cativamos”. Pensando, agora, no cativeiro mental que essa clerezia nos impôs - não esquecendo a inquisição - sou levado a pensar no perdão por seus atos insanos. Até porque, acreditando na multiplicidade das experiências do ser, sou levado a admitir a possibilidade da minha participação efetiva nessa insana aventura.
Somos levados a pensar, sempre, que ficamos no lado dos torturados e nunca dos torturadores e assim nos eximimos da responsabilidade pelos rumos que a humanidade vem seguindo neste planeta.
Sim, responsabilidade, é o conceito do qual precisamos nos apropriar para mudarmos o rumo dessa história. Quando compreendermos que somos responsáveis não só por nossas vidas, mas também por quem cativamos, passamos a prestar mais atenção em nossos atos, por sabermos que eles podem repercutir no destino de nossos companheiros de viagem.
Cativar é prender, é envolver o outro em nossas teias emocionais. Então é preciso aprender a libertar.

Precisamos atentar para o fato de que o amor só existe em liberdade.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Da Gente Que Eu Gosto



“Eu gosto de gente que vibra, que não tem de ser empurrada, que não tem de dizer que faça as coisas, mas que sabe o que tem que fazer e que faz. A gente que cultiva seus sonhos até que esses sonhos se apoderem de sua própria realidade.
Eu gosto de gente com capacidade para assumir as conseqüências de suas ações, de gente que arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho, que se permite, abandona os conselhos sensatos deixando as soluções nas mãos de Deus.
Eu gosto de gente que é justa com sua gente e consigo mesma, de gente que agradece o novo dia, as coisas boas que existem em sua vida, que vive cada hora com bom ânimo dando o melhor de si, agradecido de estar vivo, de poder distribuir sorrisos, de oferecer suas mãos e ajudar generosamente sem esperar nada em troca.
Eu gosto de gente capaz de me criticar construtivamente e de frente, mas sem me lastimar ou me ferir; de gente que tem tato. Gosto de gente que possui sentido de justiça; a estes chamo de meus amigos.
Eu gosto de gente que sabe a importância da alegria e a pratica; de gente que por meio de piadas nos ensina a conceber a vida com humor; de gente que nunca deixa de ser animada.
Eu gosto de gente sincera e franca, capaz de se opor com argumentos razoáveis a qualquer decisão.
Eu gosto de gente fiel e persistente, que não descansa quando se trata de alcançar objetivos e idéias.
Eu gosto de gente de critério, a que não se envergonha em reconhecer que se equivocou ou que não sabe algo; de gente que, ao aceitar seus erros, se esforça genuinamente por não voltar a cometê-los; de gente que luta contra adversidades. 
Gosto de gente que busca soluções.
Eu gosto da gente que pensa e medita internamente; de gente que valoriza seus semelhantes, não por um estereotipo social, nem como se apresentam; de gente que não julga, nem deixa que outros julguem. 
Gosto de gente que tem personalidade.
Eu gosto de gente que é capaz de entender que o maior erro do ser humano é tentar arrancar da cabeça aquilo que não sai do coração.
A sensibilidade, a coragem, a solidariedade, a bondade, o respeito, a tranqüilidade, os valores, a alegria, a humildade, a fé, a felicidade, o tato, a confiança, a esperança, o agradecimento, a sabedoria, os sonhos, o arrependimento, e o amor para com os demais e consigo próprio são coisas fundamentais para se chamar GENTE.
Com gente como essa, me comprometo, para o que seja, pelo resto de minha vida… já que, por tê-los junto de mim, me dou por bem retribuído”.

Mário Benedetti