domingo, 4 de julho de 2010

Reflexões sobre a vida futura


Tenho ouvido falar desde criança que devemos pautar nossas atitudes em paradigmas éticos e que devemos buscar o aprimoramento de nosso caráter para poder desfrutar de uma vida futura mais feliz.

Também, a par disso, temos a herança judaico-cristã que nos promete entrar num paraíso se levarmos uma vida sem pecados ou se arrependermo-nos deles.

Na doutrina espírita ouço que a reforma íntima nos candidata a uma reencarnação num patamar vibratório superior e que seremos questionados sobre o que fizemos com nossos talentos nessa encarnação.

Com base nessas informações sempre acreditei que viveria toda essa minha existência trabalhando para merecer no futuro - após a morte - uma vida mais tranquila e poder usufruir do resultado de meus esforços enquanto ser encarnado, ou seja, ingressar no paraíso.

Os evagelhistas que escreveram sobre o que Jesus de Nazaré profetizou, descreveram seus ensinamentos proferidos numa narrativa alegórica que transmitiam mensagens indiretas, por meio de comparações ou analogias e que conhecemos por parábloas.

A parábola era a forma que o nazareno se valia para poder falar para a humanidade daquele e de todos os tempos, pois por serem mensagens cifradas, poderiam ser interpretadas de acordo com a organização cerebral de cada um que delas tomasse conhecimento. Como evoluimos, podemos, a cada fase de nossas vidas, interpretá-las de maneira diferente. Em razão disso seus ensinamentos não morreram e continuam abrindo horizontes na vida daqueles que os aceitam como caminhos para a evolução – eu sou o caminho, a verdade e a vida.

Há poucos dias fui levado a fazer uma reflexão sobre o significado da porta estreita, pela qual poucos passariam, segundo Jesus.


“Entrai pela porta estreita, porque larga é a porta da perdição e espaçoso o caminho que a ela conduz e muitos são os que por ela entram.
Quão pequena é a porta da vida! Quão apertado o caminho que a ela conduz! E quão poucos a encontram! (S. MATEUS, cap. VII, vv. 13 e 14.) “


As interpretações que eu já havia lido a respeito desses versículos sempre conduziam a reforçar minhas impressões supracitadas que me deixavam na condição do burrinho que segue uma cenoura pendurada à sua frente e que nunca alcança seu objetivo, pois que ele se mantém sempre à frente, assim como o futuro, que sempre será amanhã.

A vida futura então, a mim, se apresentava como uma miragem.

Isso me levava a aceitar que sempre estaria trabalhando pelo meu aprimoramento e isso era bom, pois já sabia que nunca me encontraria numa situação em que por não ter nada a alcançar estaria lançado ao tédio eterno, que poderia vir a ser meu inferno. Isso seria uma contradição, o caminho com toda certeza não passa por aí.

Percebi que o versículo 14 dá a pista certa quando diz “quão pequena é a porta da vida”.

Estimulado pelas palavras de Eckhart Tolle em sua palestra “Em harmonia com a natureza” pude fazer uma revisão do que eu havia percebido nos textos anteriores sobre a reforma íntima e que me incomodava. A vida futura não é algo para se encontrar num dia distante, a vida futura é agora!

A cada mudança que processo em minhas atitudes, em meus conceitos e em meus relacionamentos eu passo a desfrutar de uma vida nova, pois que o resultado é sentido imediatamente, surgindo um novo ser como numa nova encarnação, possibilitando-me múltiplas reencarnações numa só existência, aproveitando o mesmo corpo e a convivência com os mesmos parceiros de jornada.

A porta estreita e estreita por que poucos acessam de cada vez, mas que todos um dia acessarão, é o portal que nos dá acesso à vida, que nos coloca num plano existencial superior aqui e agora.

O paraíso está, portanto, nos esperando, não depois do desencarne, mas aqui mesmo no plano terreno para vivermos uma vida mais plena, gratificante e criativa, honrando nossa existência com uma troca amorosa mais intensa e verdadeira.