segunda-feira, 9 de março de 2015

Sobre a Lealdade

Amar é fácil. Tão fácil que pode ser inevitável. A gente ama quem não merece, ama quem não quer nosso amor, ama a despeito de nós mesmos. Tem a ver com hormônios, aparência e sensações que não somos capazes de controlar.
A lealdade não. Ela não é espontânea e nem barata. Resulta de uma decisão consciente e pode custar caro. Ela é uma forma de nobreza e tem a ver com sacrifício. Não é uma obrigação, é uma escolha que mistura, necessariamente, ideias e sentimentos. Na lealdade talvez se manifeste o melhor de nós.
Lealdade não é o mesmo que fidelidade, embora às vezes elas se confundam. Ser fiel significa, basicamente, não enganar sexual ou emocionalmente o seu parceiro. É um preceito, uma regra que se cumpre ou não se cumpre, uma espécie de obrigação. O custo da fidelidade é relativamente baixo: você perde oportunidades românticas e sexuais. Não tem a ver, necessariamente, com sentimentos. Você pode desprezar uma pessoa e ser fiel a ela por medo, coerência, falta de jeito ou de oportunidade. Assim como pode amar alguém perdidamente e ser infiel. Acontece todos os dias.
Lealdade é outra coisa. Ela vai mais fundo que a mera fidelidade. Supõe compromisso, conexão, cuidado. Implica entender o outro e respeitá-lo no que é essencial para ele - e pode não ser o sexo. Às vezes o outro precisa de cumplicidade intelectual, apoio prático, simples carinho. Outras vezes, a lealdade requer sacrifícios maiores.
A lealdade está amparada em valores, não apenas em sentimentos. É fácil cuidar de alguém quando se está apaixonado. Mais fácil que respirar, na verdade. Mas o que se faz quando os sentimentos desaparecem – somem com eles todas as responsabilidades em relação ao outro? Sim, ao menos que as pessoas sejam movidas por algo mais que a mera atração. Se não partilham nada além do desejo, nada resta depois do romance. Mas, se houver cumplicidades maiores, então se manifesta a lealdade. Ela dura mais do que os sentimentos eróticos porque se estende além deles.
O romantismo, embora a gente não o veja sempre assim, é uma forma exacerbada de egoísmo. Meu amor, minha paixão, minha vida. Minha família, inclusive. Tem a ver com desejo, posse e exclusividade, que tornam a infidelidade insuportável, a perda intolerável. As pessoas matam por isso todos os dias. Porque amam. É um sentimento que não exige elevação moral e pode colocar à mostra o pior de nós mesmos, embora pareça apenas lindo.
Minha impressão é que o mundo anda precisado de lealdade. Estamos obcecados pela ideia da fidelidade porque a infidelidade nos machuca. Sofremos exacerbadamente porque o mundo, o nosso mundo, não contém nada além de nós mesmos, com nossos sentimentos e necessidades. Quando algo falha em nossa intimidade, desabamos.
Talvez devêssemos pensar de forma mais generosa. Talvez precisemos nos apaixonar por ideias, nos ligar por compromissos, cultivar sonhos e aspirações que estejam além dos nossos interesses pessoais. Correr riscos maiores que o de ser traído ou demitido. O idealismo, que tem sido uma força de mudança na conduta humana, precisa ser resgatado. Não apenas para salvar o planeta e a sociedade, mas para nos dar, pessoalmente, alguma forma de esperança. A fidelidade nos leva até a esquina. A lealdade talvez nos conduza mais longe, bem mais longe.
Ivan Martins
Revista Época

sábado, 7 de março de 2015

Sobre o Respeito

Uma boa dose de respeito próprio pode ajudar-nos a alcançar nossos objetivos, a manter relacionamentos saudáveis e conseguir com que todos ao nosso redor enxerguem-nos como pessoas de bem.
Quanto mais nos conhecermos, mais apreciaremos nossa singularidade. Para respeitar a nós mesmos, precisamos saber que, enquanto personagens, não somos perfeitos.
É importante ouvir a opinião dos outros a nosso respeito. A crítica construtiva pode ajudar-nos a alcançar nossas metas. Algumas vezes, é difícil diferenciar a crítica construtiva passada de maneira dura da maléfica dita de maneira suave.
Você precisa se sentir confortável consigo e aprender a ser feliz com tudo aquilo que você ama em si mesmo, e aceitar as partes menos belas, especialmente as imutáveis. Pare de inventar desculpas para seus erros e de dizer que você só se amaria se fosse diferente. Comece a amar a pessoa que você realmente é.
Se você costuma imaginar o pior em todas as situações, será impossível se sentir bem consigo ou respeitar a si próprio.
Ainda que pareça ser difícil, sua sensação de valor próprio e de felicidade precisa vir de dentro de seu próprio ser, e não das pessoas que o cercam. Óbvio que alguns elogios ou presentes podem fazê-lo se sentir melhor, porém sua felicidade e satisfação precisam vir de dentro.
Não permita que as pessoas digam quem você é: impeça-as de lhe fazerem se sentir pequeno; não deixe que elas duvidem de suas crenças e não faça isso com os outros.
Se quiser respeitar a si mesmo, então você precisa acreditar nas decisões que tomou. Aprenda a permitir que os outros discordem de você e até lhe odeiem.
Se você permitir que as pessoas mudem as suas próprias concepções ou ideias, então os outros acharão que suas convicções não são muito fortes nem originais. Assim que você acreditar em você mesmo, será difícil permitir que pessoas negativas lhe perturbem.
Se quiser respeitar a si mesmo, você precisará começar a respeitar as pessoas que lhe cercam, então seja honesto com os outros, não roube, prejudique ou insulte os outros, escute o que os eles têm a dizer e evite interrompê-los.
Uma pessoa com respeito próprio não permite que os outros a tratem mal e não se associa a alguém desrespeitoso. Quando alguém não lhe respeitar, você precisa aprender a se afastar de tal pessoa como nos ensina Walter Riso em seu livro "Amar ou Depender".
Não é fácil deixar de lado uma pessoa que lhe desrespeitou, principalmente se ela for muito importante para você. Aprenda a reconhecer um relacionamento manipulativo ou controlador. Pode ser difícil enxergar quando pessoas próximas estão sendo desrespeitosas, especialmente se elas agirem de maneira sutil e ardilosa. Fica pior quando a pessoa é uma amiga de longa data ou seu grande amor.
Pare de ser carente! Muitas vezes, em namoros ou em amizades, permitimos que as pessoas se aproveitem de nós por nos sentirmos carentes. Aprenda a lidar com o fato de que você não precisa depender de alguém para ser feliz.
Pare de ser bajulador! É cristão ficar atento às necessidades dos outros, mas não se esqueça de lidar com seus próprios problemas.
Respeite seu corpo. Não o insulte por sua aparência natural. Faça um esforço para entrar em forma e permanecer saudável, mas não se deprima por aquilo que é incontrolável, como suas proporções. Foque nas coisas que você pode mudar e melhorar, e faça-o por querer se sentir bem, e não por achar que seu corpo não é belo o bastante.
Se quiser respeitar a si mesmo, então você precisará aprender a perdoar as pessoas que cometeram erros com você. Isso não significa que deva ser o melhor amigo delas, mas sim, que deve entender e aceitar o que aconteceu e aprender a seguir adiante. Se você estiver desperdiçando todo o seu tempo com mágoas e ressentimentos, será impossível viver plenamente no presente.
Se você realmente quer respeitar a si mesmo, terá de admitir seus erros. Se você fez besteira, permita que as pessoas saibam de sua sensação de responsabilidade. Se você aprender a admitir seus erros, as pessoas lhe respeitarão muito mais e confiarão em seu caráter. Isso é especialmente verdadeiro para relacionamentos. É quase impossível ter respeito próprio se você estiver namorando alguém que lhe machuca.
Pare de se diminuir. Uma coisa é rir de si mesmo, o que demonstra que você não leva suas falhas tão a sério e não está obcecado em parecer perfeito. Se você se diminuir, encorajará os outros a fazer o mesmo com você.
Respeitar a si mesmo não significa julgar-se perfeito e que não há nada que precise ser melhorado. Você não pode se transformar de imediato. É preciso muita dedicação e persistência. Ainda assim, dar os primeiros passos para se tornar alguém que você respeite lhe fará se sentir mais confiante.