sábado, 31 de agosto de 2013

Das Alegrias e Paixões

                                                                                         Friedrich Nietzsche

Irmão, quando possuis uma virtude e essa virtude é tua, não a tens em comum com pessoa nenhuma.
A falar verdade, tu queres chamá-la pelo seu nome e acariciá-la; queres puxar-lhe a orelha e divertir-te com ela.
E já vês! Tens agora o seu nome em comum com o povo, e tornaste-te povo e rebanho com a tua virtude!
Farias melhor dizendo: “Coisa inexprimível e sem nome é o que constitui o tormento e a doçura da minha alma, e o que é também a fome das minhas entranhas”.
Seja a tua virtude demasiado alta para a familiaridade de denominações; e se necessitas falar dela não te envergonhes de balbuciar.
Fala e balbucia assim: “Este é o meu bem, o que amo; só assim me agrada inteiramente; só assim é que quero bem”!
Não o quero como mandamento de um Deus, nem como uma lei e uma necessidade humana; não há de ser para mim um guia de terras superiores e paraísos.
O que eu amo é uma virtude terrena, que se não relaciona com a sabedoria e o sentir comum.
Este pássaro, porém, construiu o seu ninho em mim; por isso lhe quero e o estreito ao coração. Agora incuba em mim os seus dourados ovos.
É assim que deves balbuciar e elogiar a tua virtude.
Dantes tinhas paixões e chamava-lhes males. Agora, porém, só tens as tuas virtudes: nasceram das tuas paixões.
Puseste nessas paixões o teu objetivo mais elevado; então passaram a ser tuas virtudes e alegrias.
Fostes da raça dos coléricos, ou dos voluptuosos ou dos fanáticos, ou dos vingativos, todas as tuas paixões acabaram por se mudar em virtudes, todos os teus demônios em anjos.
Dantes tinhas no teu antro, cães selvagens, mas acabaram por se converter em pássaros e aves canoras.
Com os teus venenos preparaste o teu bálsamo; ordenhaste a tua vaca de tribulação e agora bebes o saboroso leite dos seus úberes.
E nenhum mal nasce em ti, a não ser aquele que brota da luta das tuas virtudes.
Irmão, quando gozas de boa sorte tens uma virtude, e nada mais; assim passas mais ligeiro a ponte. É uma distinção ter muitas virtudes, mas é sorte bem dura; e não são poucos os que se têm ido matar ao deserto por estarem fartos de ser combatente e campo de batalha de virtudes.
Irmão, a guerra e as batalhas são males? Pois são males necessários; a inveja, a desconfiança e a calúnia são necessárias entre as tuas virtudes.
Repara como cada uma das virtudes deseja o mais alto que há: quer todo o teu espírito para seu arauto, quer a tua força toda na cólera, no ódio e no amor.
Cada virtude é ciosa das outras virtudes, e os ciúmes são uma coisa terrível. Também há virtudes que podem morrer por ciúmes.
O que anda em redor da chama dos ciúmes, acaba qual escorpião, por voltar contra si mesmo o aguilhão envenenado.
Ai, meu irmão! Nunca viste uma virtude caluniar-se e aniquilar-se a si mesma?
O homem precisa ser superado. Por isso necessitas amar as tuas virtudes, porque por elas morrerás.
Assim falava Zaratustra!



segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Curando pela fé

Afinal de contas o que é a fé? Que poder ela tem?
Jesus já nos ensinava que se tivéssemos fé moveríamos montanhas, que as curas à sua volta não se davam pelo seu poder pessoal, mas pela fé das pessoas.
Fé não é esperança, fé é certeza.
Na esperança acreditamos que alguém irá fazer algo por nós, sejam homens, anjos, santos ou deuses.
Acreditar que o universo conhece nossa situação miserável e que por caridade alguém nos olhará com piedade e nos tirará do buraco em que nos encontramos é uma atitude pouco humilde.
Não somos o centro do Universo, todos à nossa volta estão ocupados em suas lides diárias, cuidando de suas vidas, então precisamos, nós, também, cuidar da nossa.
Se precisamos de ajuda, temos que dizer a alguém, ao mundo, ao Universo que não conseguimos dar conta de nossas necessidades.
Ficar parado com o olhar de pedinte à espera que alguém nos perceba, pode demandar tempo demais, sofrimento demais e desnecessário.
A fé pressupõe o comportamento ditado pela disposição interior em favor de uma mudança, de uma transformação. A fé não aguarda passivamente o mundo se mover em nossa direção, mas o movimento inverso, nós em direção do mundo, dizendo mais do que queremos, mais do que somos.
Na fé estamos dizendo ao Universo quem somos: filhos de Deus, perfeitos em essência, mas ainda nos descobrindo, construindo nossa consciência e nossa identidade.
Na fé não pedimos, mas assumimos nosso desejo de ser o que quisermos, assumimos nossa natureza humana em constante mutação.
Quando entendemos esse processo, a cura é só consequência, pois no processo transformador de vir a ser estaremos sempre melhorando todos os nossos atributos espirituais, aprimorando todas as faces do nosso caráter.
A cura é a resposta que damos a nós mesmos que entendemos o que estávamos precisando naqueles momentos de sofreguidão, dor e desespero.
O que era aquela ansiedade?
O que a dor estava nos dizendo?
Que alguma dor emocional não estava sendo atendida, que alguns cuidados com o corpo não estavam sendo observados.
A dor é um grito de socorro da alma que veio ao mundo para ser feliz.
Portanto a fé não pode ser crer no sobrenatural, no milagre, mas no entrosamento perfeito entre a consciência e a sabedoria do espírito, o deixar acontecer no plano material os ideais que nos trouxeram aqui.
Quando estamos no caminho da realização dos ideais do espírito, estamos em harmonia com o Cosmos e a felicidade é nosso estado natural.
Na desarmonia, adoecemos. Então o retorno passa pela consciência da necessidade da harmonia.
A cura é questão de consciência e não de favores e a essa consciência de quem somos e o poder que ela nos traz chamamos de fé.