segunda-feira, 29 de julho de 2019

Temos Inimigos?



Há 15 anos faço palestras de cunho espiritualista. Não sonhei em fazer isso, mas aconteceu de forma natural de eu ser convidado a falar para pacientes do Centro de Apoio ao Paciente com Câncer, do Núcleo Espírita Nosso Lar, substituindo um palestrante que faltara, e onde permaneci falando durante algum tempo.
Depois fui levado a falar sobre os temas do Evangelho no Núcleo em Forquilhinha, São José. Fazia um capítulo por semana. Tive que ler todo o Evangelho muitas vezes e com o passar do tempo já não precisava mais lê-lo.
Mais recentemente tenho sido convidado a falar em muitos outros Centros Espíritas e, quando não me dão um tema, escolho-o sempre da mesma maneira: entrego o Evangelho a alguém da plateia e peço que abra uma página aleatoriamente.
Em cada dez aberturas, seis caem no capítulo “Amai os Vossos Inimigos”.
Coincidência?  Não acredito em coincidências. Creio que uma mão invisível ajuda na escolha por conta da urgência no aprendizado de um tema tão relevante à humanidade nessa fase conturbada de transição que estamos vivendo.
As filosofias espiritualistas vem há milênios nos ensinando a fraternidade como caminho de convivência pacífica e amorosa para progredirmos enquanto seres a caminho da luz.
O materialismo crescente na Terra nos últimos dois séculos, por conta da industrialização, tem levado os homens a sonhar em consumir mais do que necessitam e assim a disputar espaços dentro da sociedade.
Ter e/ou parecer ter virou obsessão para uma parcela significativa da população, que exibe suas propriedades e estilos como se isso os tornassem superiores aos demais, ou pelo menos aceitos como vitoriosos no sistema criado.
O surgimento de filosofias materialistas e a luta pelo poder e domínio da humanidade, por mentes doentias subjugadas por consciências trevosas, instigam a divisão entre “nós e eles”, fazendo acirrar nos corações e mentes a ideia de que temos inimigos contra os quais precisamos lutar.
Instigam a luta de classes alegando que os que têm mais recursos os conseguiram roubando dos outros. Nunca lembram que o Universo nos responde de acordo com nossos desejos e sonhos, que não somos iguais e temos coeficientes de inteligência também em níveis diferentes, sendo que os mais inteligentes acreditam na educação como forma de ver se abrirem os horizontes e gerenciam melhor suas vidas e recursos.
Essa luta visa enfraquecer os homens, tornando-os maleáveis e manipuláveis.
O desenvolvimento da tecnologia da informação deu-nos ferramentas que têm sido usadas por ambas as partes dessa contenda, tanto dos que a usam para divulgar os princípios da sabedoria universal quanto dos que apostam no quanto pior melhor.
É aí que precisamos ficar atentos para não rotular, aqueles que se deixaram levar pela influência nociva, como “nossos inimigos”.
Somos todos filhos do mesmo e único Deus e estamos cada qual numa fase da nossa caminhada, somos todos, nesse momento, diferentes e estamos escrevendo estórias diferentes.
Com tanta leitura do Evangelho, aprendi que todo o ensinamento pregado pelo Mestre se resume na máxima “Ama a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo”, portanto, por mais equivocado que, aos meus olhos, o próximo possa estar, devo sempre lembrar que, assim como eu, ele também está na trilha da evolução e no fundo de sua alma ele acredita estar no caminho certo.
Tudo o que posso fazer é alertá-lo, oferecer ajuda, mas se ele não quiser, seria maldade tentar por força fazê-lo entender ou mudar sua trajetória. Estaria eu interferindo em seu livre arbítrio de aprender pelas suas próprias experiências.
Se sua conduta me agride, afasto-me e em silêncio lanço meu pensamento a Deus, oro e desejo do fundo do meu coração que a sabedoria prevaleça e que a luz se faça em sua vida.
Pensando dessa forma, realmente, não consigo ver inimigos à minha volta, mas tão somente seres humanos em busca do conhecimento e do crescimento tão almejado por todos.
Fatalmente verei caminhos mais curtos e caminhos mais longos, mas tenho consciência de que, um dia, todos alcançarão o tão desejado retorno à Casa do Pai.
Adilson Maestri

sábado, 27 de julho de 2019

Singularidade


Há poucos dias estava eu na Praça XV, no centro de Florianópolis, esperando minha esposa que entrara num banco para provar que estava viva para a Previdência Social, quando minha atenção focou numa moça dos seus 25 anos que passava embrulhada num cobertor. Como o termômetro ali ao lado acusava 20 graus, pensei tratar-se de uma moradora de rua.
Mas notei que ela estava bem vestida, penteada, postura ereta e que o tal cobertor era bonito demais para ser um cobertor de morador de rua. Dei-me conta que era uma manta peruana e que ela a usava não só como agasalho, mas também para fazer um estilo tal que eu não saberia identificar.
Na sequência, percebi que outros tipos “estranhos” desfilavam pelo calçadão da Catedral Metropolitana e eu ali a observar a diversidade de tipos humanos, cada qual com seu estilo próprio, uns estereotipados e outros absolutamente originais, com seus estilos cunhados no passar dos anos e pelas condições que a vida se lhes apresentou.
Estendi minha percepção para a humanidade e pus-me a pensar na diversidade de tipos humanos que nós, que viemos para a Terra, nos tornamos. E achei interessante constatar a maravilha que é a diversidade humana.
Filhos de Deus e tal qual filhos de pais terrenos somos todos diferentes. Não há dois seres humanos iguais, quer seja na aparência, quer seja na alma.
Cada qual está neste momento vivendo um patamar existencial resultante de todas as suas experiências pretéritas e que o torna um ser único.
As ideologias, que pregam a igualdade entre os homens, desconsideram essa realidade: nós não somos iguais e nem precisamos ser. Precisamos ser nós mesmos. Vivemos, em cada experiência carnal imersos no mundo que escolhemos viver, para aprender com as facilidades e dificuldades dele decorrentes.
Os imensos conjuntos habitacionais construídos pelos governos nas periferias das cidades me causam constrangimento. Como ter casas iguais para pessoas diferentes? Como engenheiro, sempre primei por projetar casas que retratassem a personalidade de cada proprietário e me foi comum ouvir “essa é a casa dos meus sonhos”.
Lembrei das imagens que vinham da China, no período de Mao Tsé Tung, com o chineses todos vestidos com a mesma bata azul, como se fosse um rebanho humano. A sensação que me causa, ainda, uma imagem dessas, é de que aqueles seres não tinham identidade, eram números, gado humano.
A diversidade que eu observava ali na praça era muito mais humana, mais real, mais vibrante e eu sentia como mais autêntica e desejável para a experiência humana na Terra.
Sou cristão e aprendi que o julgamento é uma atitude cruel para com outros, pois pressupõe sabermos qual é a condição ideal de vida dos outros.
A beleza humana está justamente na singularidade que somos, na diversidade das formas, saberes e dons.
Nosso livre arbítrio além de permitir que cada ser se expresse, apresente-se ao mundo tal qual a sua natureza, ainda nos possibilita ser inspiração para que outros cresçam e tragam ao mundo suas contribuições à grande obra da existência.
Somos uma constelação a emanar nossas luzes para o Universo, tal qual a diversidade de flores que encontramos na natureza, cada qual com sua forma, cor e perfume. A natureza nas florestas nos mostra claramente como a vida pulsa na diversidade dos tipos e formas, o verdadeiro Jardim do Éden, onde todas as plantas e animais convivem em harmonia, havendo espaço e condições de vida e progresso para todos.
A monocromia é insossa, entediante e sem graça. A padronização, igualmente rouba a beleza da originalidade.
Ama o próximo como a ti mesmo, disse o Mestre. Isso nos leva a entender que precisamos nos conhecer profundamente para entender quem somos, qual nossa contribuição à humanidade e qual a razão de estarmos aqui e agora, qual nossa luz, nossa força.


Adilson Maestri