Há 15 anos faço palestras de cunho espiritualista. Não
sonhei em fazer isso, mas aconteceu de forma natural de eu ser convidado a falar
para pacientes do Centro de Apoio ao Paciente com Câncer, do Núcleo Espírita
Nosso Lar, substituindo um palestrante que faltara, e onde permaneci falando
durante algum tempo.
Depois fui levado a falar sobre os temas do Evangelho no
Núcleo em Forquilhinha, São José. Fazia um capítulo por semana. Tive que ler
todo o Evangelho muitas vezes e com o passar do tempo já não precisava mais
lê-lo.
Mais recentemente tenho sido convidado a falar em muitos
outros Centros Espíritas e, quando não me dão um tema, escolho-o sempre da
mesma maneira: entrego o Evangelho a alguém da plateia e peço que abra uma
página aleatoriamente.
Em cada dez aberturas, seis caem no capítulo “Amai os
Vossos Inimigos”.
Coincidência? Não
acredito em coincidências. Creio que uma mão invisível ajuda na escolha por
conta da urgência no aprendizado de um tema tão relevante à humanidade nessa
fase conturbada de transição que estamos vivendo.
As filosofias espiritualistas vem há milênios nos
ensinando a fraternidade como caminho de convivência pacífica e amorosa para
progredirmos enquanto seres a caminho da luz.
O materialismo crescente na Terra nos últimos dois
séculos, por conta da industrialização, tem levado os homens a sonhar em consumir
mais do que necessitam e assim a disputar espaços dentro da sociedade.
Ter e/ou parecer ter virou obsessão para uma parcela
significativa da população, que exibe suas propriedades e estilos como se isso
os tornassem superiores aos demais, ou pelo menos aceitos como vitoriosos no
sistema criado.
O surgimento de filosofias materialistas e a luta pelo
poder e domínio da humanidade, por mentes doentias subjugadas por consciências
trevosas, instigam a divisão entre “nós e eles”, fazendo acirrar nos corações e
mentes a ideia de que temos inimigos contra os quais precisamos lutar.
Instigam a luta de classes alegando que os que têm mais
recursos os conseguiram roubando dos outros. Nunca lembram que o Universo nos
responde de acordo com nossos desejos e sonhos, que não somos iguais e temos
coeficientes de inteligência também em níveis diferentes, sendo que os mais
inteligentes acreditam na educação como forma de ver se abrirem os horizontes e
gerenciam melhor suas vidas e recursos.
Essa luta visa enfraquecer os homens, tornando-os
maleáveis e manipuláveis.
O desenvolvimento da tecnologia da informação deu-nos
ferramentas que têm sido usadas por ambas as partes dessa contenda, tanto dos
que a usam para divulgar os princípios da sabedoria universal quanto dos que
apostam no quanto pior melhor.
É aí que precisamos ficar atentos para não rotular,
aqueles que se deixaram levar pela influência nociva, como “nossos inimigos”.
Somos todos filhos do mesmo e único Deus e estamos cada
qual numa fase da nossa caminhada, somos todos, nesse momento, diferentes e
estamos escrevendo estórias diferentes.
Com tanta leitura do Evangelho, aprendi que todo o
ensinamento pregado pelo Mestre se resume na máxima “Ama a Deus sobre todas as
coisas e ao próximo como a ti mesmo”, portanto, por mais equivocado que, aos
meus olhos, o próximo possa estar, devo sempre lembrar que, assim como eu, ele
também está na trilha da evolução e no fundo de sua alma ele acredita estar no
caminho certo.
Tudo o que posso fazer é alertá-lo, oferecer ajuda, mas
se ele não quiser, seria maldade tentar por força fazê-lo entender ou mudar sua
trajetória. Estaria eu interferindo em seu livre arbítrio de aprender pelas
suas próprias experiências.
Se sua conduta me agride, afasto-me e em silêncio lanço
meu pensamento a Deus, oro e desejo do fundo do meu coração que a sabedoria
prevaleça e que a luz se faça em sua vida.
Pensando dessa forma, realmente, não consigo ver inimigos
à minha volta, mas tão somente seres humanos em busca do conhecimento e do
crescimento tão almejado por todos.
Fatalmente verei caminhos mais curtos e caminhos mais
longos, mas tenho consciência de que, um dia, todos alcançarão o tão desejado
retorno à Casa do Pai.
Adilson Maestri