Passou-se a enaltecer valores como conforto, vida regrada ,
casamento feliz, trabalho que renda bens materiais, com o prestígio daí
resultante.
Esqueceu-se de que esses valores, ainda que desejáveis,
são sempre exteriores, podem exigir muitos anos de
empenho, e nem sempre são obtidos por meios lícitos. Acarretam uma
preocupação exagerada com o status quo,
deixando de lado a vida interior.
Infelizmente, essa perda só é percebida quando o indivíduo se
dá conta do que deixou passar, por não ter cultivado a sua espiritualidade,
ocupando o seu cérebro com ideias de como ganhar mais dinheiro. Nesse
período, em que ficou mergulhado no mundo exterior, provavelmente, já
adquiriu alguma doença incapacitante.
Viver bem não é só continuar existindo e o sentido da vida não é
só sobrevivência, mesmo que seja nas melhores condições materiais.
O caminho para desenvolver um estilo de
vida saudável consiste em manter a alegria de
viver, criar coisas novas, conviver bem com as pessoas próximas,
com a natureza e com o Universo. Esse estilo de vida vai determinar um
envelhecer bem sucedido e não deve ser confundido com o cultivo do prazer
dos sentidos.
Cuidar de si é uma arte, um privilégio, com
autonomia para não se sujeitar às conveniências do
lazer exterior.
Quando o indivíduo se dá conta da finitude, pelas próprias limitações da
existência, deve contentar-se com as suas realizações,
sem reter amarguras e frustrações, bem como raiva e
inveja, sentimentos prenunciadores de doenças.
Como
ensinam as ciências da vida e da saúde e a reflexão filosófica e religiosa, mas
também e - sobretudo a própria experiência cotidiana - morte, finitude e vulnerabilidade
são características intrínsecas dos sistemas vivos, os quais são sistemas
jogados no mundo e situados no tempo, submetidos a um processo irreversível que
inclui o nascer, o crescer, o decair e o morrer.
Trata-se
de um fato incontestável perante nossos sentidos: todos os seres vivos,
inclusive os humanos, morrem. Morrem porque estão vivos, porque como sistemas
irreversíveis são programados biologicamente para morrer e, talvez, devam
morrer para que outros seres da mesma espécie possam vir a ser.
Por
isso, não podemos ter certezas acerca das crenças sobre nossa morte. De fato, a
ciência teve poucas certezas ao longo de sua breve história, sendo que hoje ela
não tem mais nenhuma.
Sendo
assim, vida e morte devem ser consideradas como as duas faces inseparáveis da
existência humana, durante a qual são mediadas pelas situações de
finitude chamadas vulnerabilidade.
Por
isso, para Sêneca, um dos homens mais poderosos de Roma, viver é aprender a
morrer.
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