Esse
juiz interno formado, por essa nuvem de crenças, limita a interpretação das
experiências que vivemos. No momento que nos identificamos com uma situação ou
modelo, nossas decisões sofrem influências daquele padrão.
Por
mais que achamos que presenciamos a realidade, ela é constituída através do
nosso sistema de crenças e valores. A realidade em si é percebida através das
informações que obtivemos durante nossa trajetória. Passamos a crer naquilo que
nossa mente nos diz ser a realidade e podemos nos acomodar a perceber a vida
assim.
Quando
um ser humano tem a propensão a crer, movido por algum motivo circunstancial,
as faculdades da inteligência são afetadas em suas funções, pois se produz um
adormecimento temporário da mente e ele passa a crer no que os outros dizem. Este
hábito costuma ter efeitos danosos para a alma, porque, ao provocar a inércia
da inteligência, pode levar ao fanatismo, que é a negação do juízo e do bom
senso.
Sua
causa real é a ignorância. Observa-se que quem tem essa propensão ao fanatismo revela
um estado mental precário.
A
propensão a crer é própria de quem não tem o hábito de pensar - e não quer
pensar - um ser mentalmente acomodado, que, antes de decidir-se a investigar,
por si mesmo, as questões que o preocupam ou lhe interessam, se mantém confiado
na opinião dos outros.
Refratário
ao estudo atento, sereno, reflexivo, sua opinião reflete sua incapacidade de
pensar. É comum que esse tipo de ser humano, se mostre fanático por uma ideia,
uma crença, etc., situação a que nunca chega o homem acostumado a pensar
livremente, a raciocinar com amplitude, a formar para si um juízo das suas
próprias percepções.
A
falha tem, muitas vezes, origem na educação familiar, quando a criança não é
incentivada a fazer uso de sua inteligência, para que possa discernir por si mesma,
o real do irreal, o verdadeiro do falso, o sensato do absurdo, consentindo-se,
ao contrário, que sua mente seja tomada pelas crenças, de fácil assimilação.
Os
pais costumam dizer aos filhos o que é certo e o que é errado em vez de
fazê-los refletir sobre o assunto. Só que os pais acreditam que o que pensam
que é certo, é certo, pois foi isso que eles se acostumaram a ouvir.
Com essa
propensão a crer o ser acaba por se tornar um adulto inseguro.
Quando
envolvido em questões espirituais, acaba por caminhar sobre o tênue fio que
separa o fanatismo da loucura.
O
saber que se adquire, por meio do estudo e da experiência, põe o ser humano a
salvo dos riscos a que o expõe esta danosa propensão.
É necessário
preservar os valores, que são atemporais e que não se negociam. Esses sim são
absolutos e não questionáveis. No mais, desconfio das ondas que, da mesma forma
que surgem, desaparecem; dos fenômenos de popularidade que, como fogos de
artifício, brilham por alguns minutos para se transformarem em fumaça; das
lideranças que hoje estão na capa dos veículos de economia e amanhã nas páginas
policiais; das tendências de comportamento com nomes esquisitos e que nunca se
realizam. E por aí vai.
Sem o
dogmatismo negativo, sim, eu sou um cético. No espírito questionador, o
verdadeiro cético é aquele que não se contenta com as verdades aparentes, com
as primeiras conclusões. Essas são pessoas que querem ir a fundo na discussão,
ao limite das dúvidas, para só, então, realmente formar sua opinião, criar
juízo sobre o assunto.
A palavra
cético vem do grego, Skeptomai, que significa: examinar, investigar.
No ceticismo o
espírito humano não pode atingir nenhuma certeza a respeito da verdade, o que
resulta em um procedimento intelectual de dúvida constante.
Creio ser cada
vez mais importante ser cético, como defesa contra as falsas verdades, que nos
envolvem e podem levar a enormes enganos.
Como cético
sempre olho com cuidado às afirmações que tendem aos polos, às posições
radicais, principalmente em uma época em que tudo é tão fluido, tão instável.
Adilson
Maestri
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