Como seres humanos encarnados, somos levados, pelas circunstâncias, a nos defrontar com o flagelo da dor. Essa nos atinge de diversas formas: na carne, na mente e na alma. Qual a mais cruel?
Não há como dimensionar. Cada qual vive a sua dor de uma maneira muito especial, dependendo da intensidade com a qual se olha no espelho. Sim, no espelho. Quanto mais egocêntricos, mais dor sentiremos.
A dor vem dos conflitos e uma das causas principais dos conflitos é a existência de um centro, resíduo de todas as lembranças, experiências, conhecimentos – o ego - e esse centro está sempre a traduzir tudo o que encontra nos termos daquilo que já conhece.
Há sofrimento em nossas relações com outrem. Ele é criado por uma ânsia interna de conforto, de segurança, de posse. Depois há esse sofrimento criado pela profunda incerteza que nos leva a procurar a paz, a segurança, a realidade, Deus.
Ansiando pela certeza, inventamos muitas teorias, criamos muitas crenças, e a mente fica limitada e enredada nas suas malhas e por isso é incapaz de se ajustar ao movimento da vida.
Não sei se você já observou como temos pena de nós mesmo, ao dizermos: “Estou sozinho no mundo.” No momento em que há autocompaixão, está preparado o solo em que o sofrimento lançará suas raízes.
Assim, para que um homem possa compreender o sofrimento, deverá começar livrando-se dessa brutal e egocêntrica trivialidade que é a pena de si mesmo. Podemos sentir autocompaixão por motivo de doença, a morte de alguém que nos era caro, ou por não nos termos realizado e, por conseguinte, nos sentirmos frustrados, mas, não importa qual seja a causa, a autocompaixão é a raiz do sofrimento.
Quando há sofrimento, não podemos amar. Quando dizemos que amamos alguém e esse alguém faz alguma coisa que desaprovamos e por isso sofremos, tal atitude demonstra que não amamos.
Tornamo-nos ciumentos, invejosos, nos enchemos de ódio; ao mesmo tempo dizemos: “Eu amo fulano! Um amor semelhante não é amor.
O ego com seu nome, sua forma e sua memória, é produzido pelo pensamento, mas, se o amor não é produzido pelo pensamento, então o sofrimento não tem relação alguma com o amor. Portanto, a ação que provém do amor é diferente da ação que provém do sofrimento.
Terminar o sofrimento é enfrentar a nossa própria solidão, o nosso apego, as nossas pequenas exigências de fama, nossa fome de ser amados. Essa fragmentação da vida em “alto” e “baixo”, “Deus” e “Demônio”, gera conflito e dor.
Quando há sofrimento, não há amor. O amor e o sofrimento são incompatíveis.
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