sábado, 13 de dezembro de 2014

Sobre o Natal



O sol sempre foi a representação de Deus para o homem.
Com sua luz, o sol possibilita a vida sobre o planeta.
Por volta do ano 450 da era cristã ainda era comum os cristãos prestarem homenagem ao sol. Domingo, o dia do descanso, era o dia do sol – em inglês sunday, o dia das orações nos templos.
Em diversas culturas espalhadas pelo mundo, a celebração da passagem do ano ou das estações é feita com o intuito de estabelecer a renovação do mundo e o revigoramento dos valores que agregam uma determinada civilização.
Da mesma forma, o Natal também incorpora esse mesmo princípio de renovação ao celebrar o nascimento de uma das figuras centrais do cristianismo, Jesus de Nazaré.
De fato, em diversas manifestações natalinas podemos também enxergar a reafirmação desse mesmo valor.
Dessa maneira, podemos observar que os princípios natalinos se configuraram em diferentes culturas ao longo do tempo.
Os mesopotâmicos, por exemplo, celebravam nessa mesma época o Zagmuk. Segundo a tradição mesopotâmica, o fim do ano era marcado pelo despertar de monstros terríveis a serem combatidos por Marduk, sua principal divindade. Durante a festividade, um homem era escolhido para ser vestido e tratado como rei, para depois ser sacrificado, levando todos os pecados do povo consigo.
Nas civilizações nórdicas, o Yule – festejado dia 21 de dezembro – marcava, também, o retorno do sol.
Com a oficialização do cristianismo pelo império romano, várias destas datas foram incorporadas com o propósito de ampliar o número de convertidos à nova religião do Estado.
Nesse processo, o dia 25 de dezembro foi instituído como a data em que se comemorara o nascimento de Jesus Cristo.
Várias analogias entre as tradições pagãs e os valores cristãos oferecem uma grande proximidade entre os significados atribuídos a Cristo e as divindades anteriormente cultuadas.
Assim como Jesus, Mitra era reconhecida como uma grande divindade mediadora espiritual para os romanos. Da mesma forma, Jesus, considerado “o messias”, teria a mesma função de conceder a salvação espiritual a todos àqueles que acreditassem em seus ensinamentos por meio da conversão. Com isso, a absorção dos princípios e referenciais religiosos da cultura romana influenciou na ordenação das festividades e divindades do cristianismo.
A bíblia não especifica a data do nascimento de Jesus.
A data foi fixada pelo Papa Julius I em torno de 350DC.
Como já falei a data de 25 de dezembro não é a data real do nascimento de Jesus.
A igreja entendeu que devia cristianizar as festividades pagãs que os vários povos celebravam no solstício de inverno.
Portanto, o dia 25 de dezembro foi adotado para que a data coincidisse com a festividade romana dedicada ao "nascimento do Deus Sol Invencível", que comemorava o solstício do inverno.
No mundo romano, a Saturnália - festividade em honra ao Deus Saturno - era comemorada de 17 a 22 de dezembro; era um período de alegria e troca de presentes.
25 de dezembro era tido também como a data do nascimento do misterioso deus persa Mitra, o “Sol da Virtude”.
Assim, em vez de proibir as festividades pagãs, o clero romano forneceu-lhes simbolismos cristãos e uma nova linguagem cristã. As alusões dos padres católicos ao simbolismo de Cristo como o “Sol de Justiça" (Malaquias 4:2) e a "Luz do Mundo" (João 8:12) expressam o sincretismo religioso.
As evidências confirmam que, num esforço de converter pagãos, os líderes religiosos adotaram a festa que era celebrada pelos romanos, o "nascimento do Deus Sol Invencível" (natalis invistis solis).
Com o crescimento do cristianismo o Natal conseguiu se transformar em uma das suas principais datas a serem comemoradas pelos cristãos de todo o mundo.
A ideia do que atualmente se chama de religião cristã existia entre os antigos também, e nunca deixou de existir desde o começo da raça humana. O clero sempre existiu. Todas as civilizações tinham e tem os seus sacerdotes.
Santo Agostinho, um dos pensadores mais notáveis dos primeiros séculos da Igreja Católica disse que o Cristianismo foi criado a partir da sabedoria que já estava implantada na mente dos homens.
A presença de Deus ou Essência Divina em todo ser humano é o ensinamento essencial de todos os sistemas de crenças em todos os lugares.
Já era assim entre os sumérios, caldeus e egípcios e foi no Egito que os gregos Sólon, Tales, Pitágoras e Platão aprenderam a doutrina da encarnação, ou seja, de Deus encarnado no homem.
A diferença entre o que pregavam as religiões antigas e o cristianismo é que a encarnação divina passou a ser concentrada num único homem – Jesus.
Portanto: a história de Jesus é a historia de cada um de nós, contendo não só as tentações e as cruzes que carregamos, mas também a ressurreição, ou seja, a volta para a casa essencial.
Os estudos comparativos das religiões revelam que quase todas as crenças tradicionais do mundo repousam em uma historia central de um filho celestial que desce para o mundo de trevas, sofrendo, morrendo e ressuscitando, antes de voltar ao seu mundo superior de origem.
Representada em um ritual dramático tocante, multifacetado, a história nos diz que esse Rei/Deus conquista a vitória sobre seus inimigos, tem um cortejo triunfante e é entronizado nas alturas.
Os pesquisadores dedicados ao estudo comparativo das religiões fizeram listas de trinta a cinquenta desses avatares ou salvadores incluindo: Osiris, Hórus, Krishna, Baco, Orfeu, Hermes, Adônis, Hércules, Atis e Mitra.
Durante a desintegração do império romano, muitas das populações bárbaras que chegam até a Europa trouxeram consigo uma série de tradições que definiam a sua própria identidade religiosa.
Nesse mesmo período, a expansão do Cristianismo foi marcada por uma série de adaptações em que as divindades, festas e mitos das religiões pagãs foram incorporados ao Universo Cristão.
Entre outros exemplos, podemos falar sobre a figura do Papai Noel, que para os cristãos de hoje representa o altruísmo, a bondade e alegria que permeia a celebração no nascimento de cristo. Contudo, poucos sabem de onde essa figura barbuda e rechonchuda surgiu.
É justamente aí que as tradições religiosas pagãs nos indicam a origem do famoso e celebrado “bom velhinho”.
No tempo em que os bárbaros tomavam conta do velho mundo, existia uma série de celebrações que tentavam amenizar as rigorosas temperaturas e a falta de comida que tomavam a Europa nos fins de dezembro. Foi nessa situação em que apareceu a lenda do “Velho Inverno”, um senhor que batia na casa das pessoas pedindo por comida e bebida. Segundo o mito, quem o atendesse com generosidade desfrutaria de um inverno mais ameno.
A associação entre o Velho Inverno e São Nicolau apareceu muitas décadas depois. De acordo com os relatos históricos, São Nicolau foi um monge turco que viveu durante o Século IV. Conta a tradição cristã que este clérigo teria ajudado a uma jovem a não ser vendida pelo pai, jogando um saco cheio de moedas de ouro que poderiam pagar o dote de casamento da garota. Somente cinco séculos mais tarde, São Nicolau foi reconhecido pela igreja como um santo.
A partir desse momento, o dia 6 dezembro passou a ser celebrado como o dia de São Nicolau. Nesta data, as crianças aguardavam ansiosamente pelos presentes distribuídos por um homem velho que usava os trajes de um bispo. Foi a partir de então que a ideia do “bom velhinho” começou a dar os seus primeiros passos.
Nos fins do Século XIX, o desenhista alemão Thomas Nast teve a ideia de incorporar novos elementos à imagem do bom velhinho. Para tanto, publicou na revista norte-americana “Harper’s Weekly” o desenho de um Papai Noel que, para os dias atuais, mais se assemelhava a um gnomo da floresta. Com o passar dos outros Natais, ele foi melhorando seu projeto original até que o velhinho ganhou uma barriga protuberante, boa estatura e abundante barba branca.
Mas foi em 1931 que Haddon Sundblom, contratado pela empresa de refrigerantes “Coca-Cola”, bolou o padrão vermelho das vestimentas do bom velhinho. Com passar do tempo, a popularização das campanhas publicitárias da marca acabaram instituído o padrão.
Civilizações antigas que habitaram os continentes europeu e asiático no terceiro milênio antes de Cristo já consideravam as árvores como um símbolo divino. Eles as cultivam e realizavam festivais em seu favor. Essas crenças ligavam as árvores a entidades mitológicas. Sua projeção vertical, desde as raízes fincadas no solo, marcava a simbólica aliança entre o Céu e a Mãe Terra.
Na Assíria, a Deusa Semiramis havia feito uma promessa de que quem montasse uma árvore com enfeites e presentes em casa no dia do nascimento dela, ela iria abençoar aquela casa para sempre.
Entre os egípcios, o cedro se associava a Osíris. Os gregos ligavam o loureiro a Apolo, o abeto a Átis, a azinheira a Zeus. Os germânicos colocavam presente para as crianças sob o carvalho sagrado de Odin.
Nas vésperas do solstício de inverno, os povos pagãos da região dos países bálticos cortavam pinheiros, levavam para seus lares e os enfeitavam de forma muito semelhante ao que se faz nas atuais árvores de natal. Essa tradição passou aos povos germânicos.
A primeira Árvore de Natal foi decorada em Riga, na Letônia, em 1510.
O primeiro presépio foi montado por São Francisco de Assis
Para nós, cristãos modernos, Natal é reflexão.
Quais reflexões propomos serem feitas no Natal?
1 – O que eu fiz pelo próximo neste ano?
2 – O que eu fiz pela humanidade nesta vida?
3 – O que eu tenho feito por mim?
Fraterno abraço e um Feliz Natal!
Dados do historiador Rainer Sousa
Edição Adilson Maestri

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Sobre a Mentira





Descobri, não sei se tarde ou em tempo, que as pessoas mentem.

Pensava eu que as pessoas às vezes mentiam, mas descobri que elas mentem normalmente, cotidianamente. Mentem para si e para os outros.

Pensava eu que seria capaz de perceber quando alguém mentisse para mim, mas descobri que há pessoas que não tem compromisso com a realidade, vivem num mundo completamente diverso daquilo que apregoam como sendo o seu mundo.

Aprendi que uma coisa é o que as pessoas dizem de si e outra bem distinta é o que percebo observando as suas atitudes. Mas elas pensam que o mundo crê no que elas dizem; que todos à sua volta veem o mundo que elas pintam, com suas cores e sua fantasia.

E vendo o comportamento dos outros, infiro que o meu não deva ser diferente.

Mas, o que mais me tocou, foi perceber que mesmo as pessoas com quem privamos de intimidade, que juramos que conhecemos profundamente, não são, na realidade, o que acreditamos ser. Elas são quem são e elas mentem.

Mas por que todos dizem que são outras pessoas? Do que tem medo? O que querem esconder?

Elas tem medo do julgamento, por se sentirem inferiores aos outros?

Acreditam que precisamos ser perfeitos. Não se dão conta que fomos criados por Deus e por consequência, o que quer que sejamos já nascemos perfeitos, pois não há como conceber que Deus criaria algo ou alguém imperfeito.

Cada vez mais conhecemos o Universo material e tudo o que vemos é perfeito, tudo obedece às Leis Universais que regem o Universo.

Por que não conseguimos ver essa perfeição em nós mesmos?

Acreditamos que só exista um modelo de ser humano, uma só maneira de ser humano? 
A diversidade das formas e saberes está contida na perfeição.

Precisamos saber que somos apenas parte do Todo. Cada qual fazendo a sua parte. Não podemos ser, todos, roda num automóvel, podemos ser roda, mas também podemos ser banco, direção, lataria, motor, vidro, o que quer que seja, que tamanho tenha essa peça, seremos sempre indispensáveis. Nossa contribuição é única e imprescindível.

Quando pararmos de nos comparar com os outros, não precisaremos mais mentir que somos iguais. Nós não somos iguais. Não precisamos ser iguais. Precisamos ser quem somos e nada mais.

O mundo reconhece quem somos e nos deseja como somos, porque precisa de nossa contribuição, do nosso talento, das nossas virtudes. E também precisa do nosso lado sombra - das nossas inquietações - pois esse lado desconhecido irá sempre nos impulsionar para o aperfeiçoamento da humanidade.

Portanto, vamos parar de fingir que somos outra pessoa e assumir quem verdadeiramente somos e assim dar nossa contribuição para uma convivência mais harmônica, pacífica  e por consequência feliz.
Entender isto, abriu-me caminhos para o perdão.

sábado, 1 de novembro de 2014

O Estresse




Estresse é um termo que se vulgarizou nos últimos tempos. Queixa-se de estresse o homem que chega em casa depois de um dia de muito trabalho, de trânsito pesado e das filas do banco. Queixa-se a mulher que enfrentou uma maratona de atividades domésticas, profissionais e com os filhos. À noite, terminado o jantar, com as crianças recolhidas, os dois mal têm forças para trocar de roupa e cair na cama.

A palavra estresse não cabe nesse contexto. O que eles sentem é cansaço, estão exaustos e uma noite de sono é um santo remédio para recompor as energias e revigorá-los para as tarefas do dia seguinte.

A palavra estresse, na verdade, caracteriza um mecanismo fisiológico do organismo sem o qual nós, nem os outros animais, teríamos sobrevivido. Se nosso antepassado das cavernas não reagisse imediatamente, ao se deparar com uma fera faminta, não teria deixado descendentes. Nós existimos porque nossos ancestrais se estressavam, isto é, liberavam uma série de mediadores químicos (o mais popular é a adrenalina), que provocavam reações fisiológicas para que, diante do perigo, enfrentassem a fera ou fugissem.

É pela ação desses mediadores que, num momento de pavor, os pelos ficam eriçados (diante do cão ameaçador, o gato fica com os pelos em pé para dar impressão de que é maior), o batimento cardíaco e a pressão arterial aumentam, o sangue é desviado do aparelho digestivo e da pele, por exemplo, para os músculos que precisam estar fortalecidos para o combate ou para a fuga. Vencido o desafio, vem a fase do pós-estresse. Quem já passou por um susto grande sabe que depois as pernas ficam trêmulas e, às vezes, andar é impraticável.

No entanto, o estresse do mundo moderno é muito diferente do que existia no passado. Resulta do acúmulo de pequenos problemas que se repetem todos os dias. A promissória a vencer no banco e o compromisso com hora marcada prejudicado pelo congestionamento inexplicável não liberam mediadores na quantidade necessária para enfrentar um animal ameaçador, mas provocam um discreto e constante aumento da pressão arterial e do número dos batimentos cardíacos que, sem dúvida, trazem consequências nefastas para o organismo.

O estresse é uma defesa natural que nos ajuda a sobreviver, mas a cronicidade do estímulo estressante acarreta consequências danosas ao nosso organismo. Embora a tendência do indivíduo seja elaborar estratégias para resolvê-las, muitas vezes, ele vai se adaptando às exigências do chefe intransigente, à situação econômica difícil, aos revezes do dia a dia. Se não conseguir criar essas estratégias, seu organismo não irá reagir convenientemente diante dos problemas e dará sinais de cansaço que podem afetar os sistemas imunológico, endócrino, nervoso e o comportamento do dia a dia. A continuidade dessa situação afeta a pessoa, exaurindo suas forças e ela cai num estado de exaustão, de estresse propriamente dito. Caso não consiga reverter o processo, as consequências não tardarão a surgir: aumento da pressão arterial, crises de angina que podem levar ao infarto, dores musculares, nas costas, na região cervical, alterações de pele, etc. Daí a importância de a pessoa estar alerta para os sinais que o corpo registra.

Há pessoas que experimentam picos de adrenalina e vivem bem assim. Os corredores de Fórmula 1, por exemplo, mostram-se bem adaptados ao estresse inerente à sua profissão.

Quando se deve desconfiar de que algo diferente está ocorrendo? Se a pessoa notar que já não se levanta com a mesma disposição, a mesma energia para desempenhar suas atividades diárias, que se irrita com os outros facilmente, que seu comportamento está fugindo do padrão habitual, se não consegue dormir, ou mesmo dormindo a noite inteira, não acorda descansada, pois o sono não foi tranquilo e reparador, precisa ficar atenta. Algo dentro dela está avisando que as coisas não vão bem e que é fundamental tomar certas medidas para evitar consequências mais sérias. Em geral, é alguém de fora que chama atenção para o problema. A roda da vida quase sempre impede que a própria pessoa perceba com clareza o que está acontecendo com ela.

O estresse não está categorizado na classificação internacional das doenças. O que se observa, porém, já há algumas décadas, é que ele está presente nos consultórios dos médicos de diversas especialidades: cardiologistas, pneumologistas, endocrinologistas, clínicos gerais, psiquiatras. Isso leva a crer que, em breve, haverá uma modificação no Código Internacional de Medicina e ele será considerado uma categoria diagnóstica. Atualmente, é classificado como uma síndrome que afeta vários órgãos.

Não é raro a pessoa procurar um médico, ser examinada, fazer exames e ouvir: “Isso não é nada. É só emocional”.  Ora, se é emocional, é alguma coisa. Não é sensato esperar que as doenças se instalem (hipertensão, lesões nas coronárias, hipertrofia cardíaca) para tomar uma providência. Se existe um fator emocional que está desencadeando o desconforto, ele precisa ser valorizado. Nesses momentos, é sempre bom perguntar o que pode estar favorecendo o aparecimento dos sintomas. Aquilo que é estressante para um indivíduo, pode não significar nada para outro. A reação de cada um está vinculada à genética, ao temperamento, à personalidade, à maneira de perceber e assimilar as situações.

Dois irmãos, mesmo que sejam gêmeos e criados da mesma forma, podem desenvolver reações absolutamente diferentes. Um se descontrola se fica preso no trânsito na volta para casa; o outro aproveita a ocasião para ouvir música, relaxar, esvaziar a cabeça e esquecer o chefe ranzinza que cobra o serviço com urgência e depois o esquece em cima da mesa. Se a promissória está para vencer na semana seguinte, um perde logo o sono e a tranquilidade, enquanto o outro deixa tudo para resolver na véspera do vencimento.

É bom lembrar que não existem problemas sem solução. Basta que nos empenhemos em encontrá-la. Nem sempre aparece a solução ideal, a que gostaríamos de alcançar, mas temos de aceitá-la, seja ela temporária ou definitiva.

Quem costuma protelar as decisões indefinidamente, em determinado momento, terá de enfrentar as consequências desse comportamento sossegado. No entanto, sofrer antecipadamente não ajuda a resolver o problema. É preciso aprender a gerenciar os acontecimentos e a buscar estratégias para encontrar uma solução.  Veja o caso da pessoa que fez um empréstimo no banco. O razoável é que levante algumas possibilidades para juntar o dinheiro do pagamento e estabeleça metas de poupança. Reduzir as compras no supermercado, abrir mão do celular, cortar despesas com o supérfluo pode ser um bom caminho.

A pessoa que não sabe administrar os problemas de cada dia precisa aprender a fazê-lo. Às vezes, a ajuda de um profissional é indispensável para evitar que a qualidade e o tempo de vida fiquem seriamente comprometidos por esse comportamento.

Não é só a educação, mas é também a educação que interfere nessa forma de agir. Às vezes, nos deparamos com dois irmãos, gêmeos até, um muito sossegado e o outro extremamente agitado. É uma característica individual, uma exigência interna. Por isso, diante de um mesmo evento cada um reagirá a seu modo.

Todos temos, porém, uma maquininha de fabricar estresse. O irmão que precisa ter tudo em ordem antes de se arrumar para a escola demonstra uma necessidade de perfeição, de ser organizado para sentir-se bem que o outro desconhece. Pouco importa para quem não é exigente se a camisa está abotoada, os tênis limpos, o lanche bem arrumado. Se, em geral, os desligados tendem a usufruir melhor qualidade de vida, são eles que penam para sobreviver no mercado competitivo de trabalho. Por isso, o importante é aprender a adequar-se às exigências. Nem ser o menino que quer tudo perfeito nem o relaxado que não se abala com nada.

Se os pais não souberem dizer não para filhos, se não lhes ensinarem um mínimo de organização, não os estarão preparando para a vida. Por outro lado, se forem exigentes demais, podem estar estimulando o estresse do filho. Vamos analisar casos extremos diante do exame vestibular. O desorganizado não consegue estruturar-se para estudar e, na hora da prova, se perde entre as questões. O outro, apesar da boa perfomance intelectual que demonstrou ao longo da vida escolar, tem um lapso de memória e não consegue lembrar-se do que estudou.

Isso é uma exigência interna decorrente do estresse, da cobrança que ele se impõe na vida, diante das coisas que executa e faz. E se pensarmos que só os adultos estão sujeitos a desenvolver esse quadro, estaremos enganados. As crianças estão cada dia mais estressadas. Elas vão para a escola, estudam línguas estrangeiras e informática, fazem natação, balé, judô e não têm tempo para mais nada.

É preciso desde cedo aprender a organizar a vida. Sem dúvida, o trabalho é essencial na vida de adultos e crianças, mas não é tudo. Todos precisam de lazer e a maioria das pessoas estressadas não sabe sentir prazer. Muitos não se permitem gozar a satisfação de ter completado uma tarefa, seja ela qual for. Sentir prazer ameniza o impacto do estresse.

Nós temos sempre que pensar no lado positivo das coisas. Isso ajuda os neurotransmissores a não detonar nosso organismo. Se houve uma enchente na marginal e o trânsito estava engarrafado, ter seguro para consertar o carro ou escapar ileso da confusão já é uma grande conquista. Se formos capazes de olhar o lado positivo, mesmo que tudo pareça muito complicado, é um caminho para encontrar uma saída. Na verdade, construímos nosso destino e garantimos a qualidade de nossas vidas de acordo com o modo de enfocar possíveis contratempos.

Em geral, a insatisfação permanente que os adultos carregam como um fardo deriva do aprendizado de um comportamento. A criança não está preocupada com as tarefas, mas a mãe, o pai e os professores cobram que sejam feitas no prazo certo e com capricho. Essa cobrança vai sendo internalizada e, em dado momento, ela passa a cobrar de si mesma um desempenho impecável e perde essa coisa gostosa da infância que é sentir-se feliz e nada mais. Alcançar sempre a perfeição é um objetivo estressante e quase impossível. E as pessoas se torturam por causa disso. Esses extremos de cobrança aumentam o nível de estresse e favorecem a adição de drogas, do álcool, os quadros de depressão, ansiedade e somatização.

O estresse age como os cupins que vão roendo a madeira até sobrar só uma capa externa de verniz. Quando nos damos conta, ele já danificou vários órgãos, comprometeu a performance profissional e o relacionamento dentro e fora de casa. Não importa o que o tenha provocado. Ele interfere em todas as áreas porque as pessoas não são constituídas por departamentos estanques. A primeira reação é de enfrentamento. Depois, o organismo opõe resistência ao estímulo, produz menos adrenalina e glicose para vencer o obstáculo, entra num processo de falência e surgem as doenças. Por isso, é importante as pessoas estarem alerta para o que compromete sua qualidade de vida.

O trânsito está congestionado, as pessoas param no bar e tomam uma cerveja. Aproxima-se a hora da reunião com a diretoria ou de falar em público, um uísque ajuda a criar coragem. O álcool funciona como um grande ansiolítico. Se possui esse lado angelical – amenizar a ansiedade em certos momentos -, tem também um lado diabólico: a necessidade de recorrer ao álcool aumenta sistemática e gradativamente e inúmeros prejuízos decorrem de seu uso crônico.

É muito comum em profissões de maior impacto de estresse, a existência de um número grande de etilistas. Por quê? Porque diante de situações que não sabe administrar, a pessoa recorre ao álcool (e a outras drogas, como maconha, cocaína, energizantes, etc.) para se anestesiar, criando, assim, uma fantasia de bem-estar com consequências potencialmente desastrosas.

Em geral, as profissões de maior impacto de estresse são as que lidam com o ser humano, nas quais a interrelação pessoal é permanente. Médicos, professores, jornalistas são exemplos de gente que não pode falhar. Recentemente, os policiais passaram a engrossar esse grupo, assim como as pessoas que trabalham em bolsas de valores e em bancos por causa da instabilidade do sistema financeiro. Outro dia me perguntaram se as donas de casa estariam livres do estresse. Não estão. Gerir uma casa com orçamento minguado e múltiplas responsabilidades as tornam sujeitas a cargas maciças de estresse.

Elas têm de administrar o orçamento, orientar os filhos que estão também estressados com os trabalhos da escola, acalmar o marido que chega de mau humor porque brigou com o chefe. Muitas ainda trabalham fora e procuram dar conta da dupla jornada com profissionalismo.

Na verdade, geralmente a mulher é a pessoa que mais trabalha na família. Não tem folga nos fins de semana nem nos feriados. A dona de casa acaba sendo o centro de tudo. Todas as pancadas recaem sobre ela.

Há tempos, uma pesquisa espanhola comparou os níveis de estresse em homens e mulheres.  A não ser na infância, independentemente da profissão, na faixa etária entre 30 e 40 anos, o nível de estresse feminino era de 6% a 10% maior do que o masculino. Uma matéria publicada pela revista Veja destacou a vida de grandes executivas que tinham de conciliar o cuidado com os filhos e as atividades profissionais. Raramente os pais dessas crianças deixavam de trabalhar para levá-las ao médico. Isso era responsabilidade das mães.  Se cabe a elas tanta responsabilidade, é preciso que aprendam a gerenciar suas vidas para transformar essa fonte de estresse em fonte de prazer.

Para prevenir o estresse o primeiro passo é identificar a causa do estresse e verificar se é possível afastá-la. Se não for, é preciso criar estratégias para resolvê-la. Às vezes, a solução encontrada não é a ideal, mas é a que se pode pôr em prática naquele momento.

Além disso, horas de sono e de lazer para reduzir os níveis constantes de adrenalina também são boa medida profilática.

A atividade física, mas sem cobrança de desempenho perfeito, é fundamental nesse processo e curtir alguns hobbies ajuda muito desde que não estejam relacionados com o trabalho do dia a dia. Se sou médica, vou me distrair fazendo crochê, tricô ou pintura para meu cérebro descansar nesse período.

Acima de tudo, a pessoa não deve automedicar-se. Incluo nisso o álcool que anestesia, os tranquilizantes e os analgésicos. Se a pessoa não conseguir controlar os níveis de estresse sozinha, deve procurar ajuda profissional.

A atividade física ajuda a neutralizar a ação dos neurotransmissores que são liberados pelo estresse, porque nosso organismo tem uma fábrica excelente de endorfina. Se fizermos exercícios, quaisquer que sejam eles, por mais de 20 minutos, o nível de endorfina, principalmente no cérebro, aumenta e isso proporciona uma sensação de bem-estar. Na época em que o professor Jatene era ministro da Saúde, dizia que, quando a coisa pegava fogo, saía andando pelo Ministério para baixar o nível de adrenalina e liberar endorfina a fim de refletir melhor para tomar medidas  acertadas.


Texto de Alexandrina Meleiro
Médica psiquiatra que trabalha no Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo