domingo, 20 de agosto de 2017

Sobre o Acolhimento


Acolhimento é uma atitude que necessita comprometimento do corpo, mente e emoção. Não dá para fingir acolhimento, pois o corpo denuncia e é facilmente perceptível pelo outro. Para acolher é necessário, antes, criarmos dentro de nós um espaço para receber, dar abrigo, proteger seja uma pessoa, uma ideia ou um animal.
A necessidade de acolhimento em nós está correlacionada às sensações do colo materno que ficaram registradas em nosso subconsciente, desde a mais tenra infância. As relações humanas, cada vez mais materialista em que vivemos, não oferecem essa sensação tão facilmente. Há um sentimento de desumanização no ar.
O mundo que vemos na televisão, nos jornais e nos computadores em nossas mãos, mostram o abandono generalizado num modo de viver cada vez mais distanciado de nossas origens, de nossos sentimentos natos, numa impressão de total falta de solidariedade e amor.
Gente morando nas ruas, desmatamento, indiferença, ganância, crueldade com animais e seres humanos por toda parte do planeta. Há uma nítida impressão de falta de amor na relações humanas, com o planeta e com nossos parceiros de viagem.
Essa frieza para com o mundo externo contamina nossas relações íntimas, nosso ambiente familiar. Ficou comum o não importar-se com o outro. As consequencias desse percurso já começamos a perceber.
O retorno ao processo do se importar e novamente sentir, para podermos acolher com simpatia, generosidade e gentileza, passa por não temer o outro nem a si mesmo.
Estamos cada vez mais envolvidos por camadas de segurança e auto-proteção. É preciso atravessar essa barreira e ir direto ao ponto. Voltar a sentir afeto pelos outros que nos cercam em todos os ambientes por onde transitamos.
Acolher tem o poder de mudar vidas para melhor.
Há poder no afeto compartilhado e onde ele existe vemos o ser humano crescer com mais saúde e amorosidade, as relações de trabalho são menos tensas e famílias mais unidas e fortalecidas. O nível do estresse diminui, tensões desaparecem, angustias dão lugar a esperança e o medo reflui. As glândulas funcionam melhor e a química do corpo se recompõe gerando bem-estar.
A par do acolhimento ao próximo, não podemos esquecer o acolhimento a nós mesmos. Quando nos sentimos desajustados em nós mesmos, tornamo-nos reféns de nossa própria autocrítica. Quando passamos alguma vergonha ficamos presos a um estado interno que nos coloca cada vez mais para baixo. O mesmo pode ocorrer quando somos agredidos ou simplesmente somos mal atendidos. 
Quando o desconforto próprio ou alheio entra dentro de nós, só nos resta cuidar deste mal-estar. Se os outros (ou nós mesmos) nos tratam mal, ainda assim, podemos nos tratar bem! A alavanca para mudar este sistema é saber nos auto-acolher.
Auto-acolher-se não quer dizer ser condescendente com os próprios erros, mas tratar a nós mesmos com gentileza à medida em que admitimos nossas falhas. 
Validar nossas necessidades é uma boa maneira de nos auto-acolher. Quando nos auto-acolhemos, podemos ser quem somos.

Livres da pressão interna de corresponder a expectativas que ainda não estamos prontos para cumprir, podemos relaxar e gradualmente gerar novas forças para seguir adiante. Uma vez confortáveis com nossa base interior, podemos nos preparar para receber melhor o outro, seja em sua alegria ou desconforto.

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