segunda-feira, 27 de julho de 2015

Quitando Débitos


A cada noite, ao me deitar, paro para pensar no que fiz durante o dia e o que não tive tempo ou desejo de fazer. Assim faço porque tenho por premissa que minha vida é eterna, que terei tempo e oportunidade para realizar todos os meus sonhos, desejos e ambições.
Claro que estou considerando minha vida de espírito, que realmente é eterno, pois enquanto persona minha vida é limitada e, por decisão do meu Criador, não conheço sua durabilidade.
Sei que existo porque penso, como enunciou René Descartes "Puisque je doute, je pense; puisque je pense, j'existe" , entretanto não posso me assegurar que amanhecerei todos os dias.
Assim, ao refletir diariamente sobre minha responsabilidade diante de mim, dos outros e do Universo, vejo o quanto deixei para trás. O quanto a dúvida, a falta de convicção, a falta de determinação e conhecimento sobre os fatos, levaram-me a deixar os acontecimentos seguirem sem que eu tenha tomado o firme propósito de realizá-los segundo a minha vontade.
E se não foram realizados segundo o meu desejo, aconteceram sob o comando de outra pessoa, que não necessariamente pensa igual a mim, logo os acontecimentos que fazem parte de minha vida, podem estar realizando outros desejos que não os meus.
Quando vejo minha vida sob esta ótica, percebo que muitas das contradições, desentendimentos e resultados não satisfatórios, acontecem por displicência minha, também, e não só dos outros seres que comigo fazem a caminhada sobre a Terra.
Percebo que tenho desculpas e pedir, perdões a absorver internamente antes de expressar e me esforçar para me manter atento ao que acontece à minha volta, “sempre alerta” como um escoteiro.
Já que a finitude é indiscutível, a impermanência uma lei do Universo, preciso, o quanto antes, quitar minhas pendências não só no âmbito material como também no âmbito das emoções.
A quem devo alguma coisa?
Não, não importa quem me deve, isso é problema deles. Importa a mim o quanto minha consciência está tranquila por ter compartilhado a vida com tantas pessoas e ter dado a elas tantas esperanças, expectativas e ilusões a meu respeito.
O quanto me comprometi ao dizer sim a tudo quanto fui solicitado. Dei conta?
Está bem, não tenho que dar conta de tudo mesmo, mas... consigo ficar em paz comigo se não cumpri o prometido?
Não, creio que não. 
Então preciso, com urgência, fazer um checklist e descobrir o que preciso pôr em dia, resolver e, também, o que preciso encerrar em minha vida para continuar caminhando em paz comigo e com o mundo.

quinta-feira, 9 de julho de 2015

Sobre a Compaixão


Tomando como ponto de partida a frase “Bem-aventurados os misericordiosos, porque obterão misericórdia” escrita por Matheus, com base nos ensinamentos de Jesus, ponho-me a pensar no desdobramento desse postulado considerando que o amor contempla diversas maneiras de se expressar.
O texto supracitado me leva a pensar na essência da palavra misericórdia que é um termo amplo que se refere a benevolência, perdão e bondade em uma variedade de contextos éticos, religiosos, sociais e legais, que me faz pensar, também, em indulgência e compaixão.
A expressão misericórdia tem origem latina, é formada pela junção de miserere (ter compaixão) e cordis (coração). "Ter compaixão do coração", significa ter capacidade de sentir aquilo que a outra pessoa sente, aproximar seus sentimentos dos sentimentos de alguém, ser solidário com as pessoas.
Portanto é uma atitude que traz em seu âmago a força essencial para chegarmos ao perdão.
Costumamos confundir perdoar com esquecer, mas temos que considerar que o esquecimento é orgânico, acontece mesmo sem nossa vontade, por deficiência física no armazenamento dos registros na memória cerebral. Já o perdão é diferente, pois se trata de dissolver um registro emocional.
Perdoar é tarefa para quem tem, realmente, o desejo firme de se reconciliar com o mundo e consigo mesmo. Entender que a porta é estreita e não dá para prosseguir com cargas pesadas e desnecessárias.
A indulgência (do latim indulgentia, que provém de indulgeo, "para ser gentil"), na visão católica é o perdão da pena temporal devida, para a justiça de Deus, ou seja, do mal causado como consequência do pecado já perdoado.
Uma indulgência oferece ao homem, meios para cumprir uma dívida, durante sua vida na Terra, reparando o mal que tenha sido cometido contra alguém.
Na visão espírita, a indulgência: não vê os defeitos de outrem, ou, se os vê, evita falar deles, divulgá-los; jamais se ocupa com os maus atos de outrem, a menos que seja para prestar um serviço; não faz observações chocantes, não tem nos lábios censuras; apenas conselhos e, as mais das vezes, velados.
A indulgência atrai, acalma, ergue, ao passo que o rigor desanima, afasta e irrita.
No budismo esta virtude é chamada de compaixão, que algumas vezes pensamos que é pena, mas que é a noção clara de que todos os seres têm exatamente o mesmo direito à felicidade.
Compaixão (do latim compassione) não deve ser confundida com empatia. A compaixão frequentemente combina-se a um desejo de aliviar ou minorar o sofrimento de outro ser senciente, bem como demonstrar especial gentileza com aqueles que sofrem.
Às vezes, nosso senso de preocupação com o outro depende da atitude que ele adota. Se a pessoa age de forma negativa, nosso senso de compaixão desaparece. Mas um senso de compaixão verdadeiro é o que nos leva a ver o outro como tendo exatamente o mesmo direito que nós à felicidade. A compaixão que se assenta no apego não se sustenta. A que se baseia na compreensão da igualdade de todos os seres é desprovida de apego, e é verdadeira.
Qual é o benefício da compaixão? O Dalai Lama responde que ela nos traz força interior, que geralmente nossa mente centra tudo em nós mesmos. Então, todas as experiências negativas, mesmo pequenas, se tornam muito dolorosas, enormes. Mas quando pensamos nos outros, nossa mente se amplia, e os nossos pequenos problemas se tornam realmente pequenos, e as coisas negativas não prejudicam nossa mente.
A prática da compaixão também é imensamente benéfica para a saúde, pois ativa o sistema imunológico. De acordo com a medicina, os que tem mais compaixão - são mais interessados pelos outros - geralmente são mais saudáveis quando comparados com pessoas egoístas. Os egoístas sofrem mais frequentemente de enfartes e outras doenças.
A mente mais egoísta, mais voltada para si mesma é muito ruim para a saúde. A mente mais compassiva, mais voltada para o próximo traz mais tranquilidade, resultando por isso em saúde muito melhor.
Quando vemos os benefícios de uma mente compassiva, e o mal de uma mente não compassiva, é fácil ver a diferença. Então, voluntariamente iremos analisar e mudar cada vez mais a nossa atitude.

quinta-feira, 2 de julho de 2015

Sobre a Porta Estreita



Quão pequena é a porta da vida! Quão apertado o caminho que a ela conduz! 
A porta estreita de que falam Mateus e Lucas é uma alegoria interessante para quando pensamos sobre o futuro que nos espera.
O amanhã é uma questão instigante para todos nós, pois é incerto e completamente envolto em mistério. Ninguém tem a menor ideia do que será.
É bem verdade que quase todos vivemos sem nos preocupar muito com o futuro, acreditando que tudo será perfeito, que teremos um lugar seguro para aportar, enquanto alguns por só pensar no futuro, deixam de viver no presente.
Quase não nos damos conta que o amanhã será consequência do hoje, assim como o hoje é resultado do que vivemos até então.
Por que Jesus disse que a porta é estreita? Esse filtro faz parte de algum pacote que assinamos para assistir e viver as delícias do Planeta Terra?
Por que passar por essa abertura apertada se o Universo é ilimitado?
Para onde vamos afinal?
Por tudo que li, vi, ouvi e percebi não iremos a lugar específico nenhum. Creio que a alegoria da porta estreita é uma referência a como devemos caminhar na vida, subindo degraus continuamente ad infinitum em direção à perfeição.
Nessa passagem precisamos estar sozinhos – sim, na porta estreita não passam dois – porque o desenvolvimento do ser é feito com o aprimoramento das atitudes, consequentemente do caráter, e isto ninguém pode fazer por nós.
Avançamos sozinhos, entretanto crescendo por meio do convívio com a família e com a sociedade que nos cerca e que nos espelham nossa íntima realidade.
O recado do Mestre é para que continuamente caminhemos livres das tormentas do narcisismo e do orgulho que nos inflam o ego e das quimeras que engrossam nossas mentes com cargas emocionais que não podemos carregar para sempre sobre nossos ombros. Assim acrescidos, inflados, não poderemos passar por porta nenhuma.
A dica do Mestre é para aprendermos a caminhar leves, despojados de falsas autoimagens e sentimentos nocivos e predatórios que não nos acrescentam - na realidade - em nada, apenas nos sobrecarregam e tornam nossa caminhada mais lenta, árdua e sofrida como um corredor polonês.
Para seguir em frente pleno de alegria e contentamento o caminho parece ser o da simplicidade eletiva, fazendo sempre aos outros aquilo que gostaríamos que fizessem conosco.