terça-feira, 2 de agosto de 2011

A Raiva

Um mestre perguntou ao seu discípulo predileto:
- O que você pensa sobre a raiva?
O discípulo meio embaraçado responde: - A raiva é um sentimento violento de ódio ou de rancor, um sentimento desagradável, difícil de admitirmos que possuímos isso em nós.
- Mas a raiva é uma força, não é? Pergunta o mestre.
- Sim, é uma força visceral, não sei em que ponto exato ela nasce, mas sinto que vem de dentro de nós.
- Mas, se ela é uma força, nós podemos dar a ela uma outra conotação que não seja a de ódio, não é certo?
- Creio que sim.
- Nós nos acostumamos a usá-la com ódio, contra alguém, contra alguma coisa, mas sempre contra. Por que não aprendemos a usá-la a nosso favor?
O discípulo foi embora com a pergunta na memória, sem saber como tornar aquela idéia em algo concreto.
Passou o tempo.
Estava o discípulo com mais alguns amigos abrindo um caminho em meio à mata quando deu falta de seus óculos.
Olhou em seus bolsos e não o encontrando olhou para trás e viu quase duzentos metros de caminho aberto, porém com todo o mato cortado sobre o solo.
- Como é que eu vou encontrá-lo no meio de tanta palha?
Pensando, assim, saiu andando e revirando o mato. Seus amigos se aproximaram perguntando o que ele havia perdido.
- Meus óculos, respondeu.
- Vai ser mais fácil encontrar uma agulha num palheiro do que achar os teus óculos nessa estrada. Retrucou um amigo.
Depois de algum tempo procurando, sem sucesso, todos voltaram ao trabalho com suas foices enquanto ele caminhava na direção contrária indignado com a perda.
- Não aceito esta situação. Afinal que "ser" sou eu, que como espírito sou capaz de tantos prodígios, mas deixo meu corpo físico aqui à mercê de meus pobres cinco sentidos e, ainda, míope?
- Não, não aceito essa condição de ter minhas partes separadas como se fossem personalidades distintas. Quero ser um só, corpo e espírito unidos numa só vontade, cúmplices na mesma viagem, na mesma aventura.
Assim pensando, sentiu a raiva brotar dentro de si. Imediatamente lembrou da lição do velho mestre sobre o uso da raiva em seu próprio benefício e deixou que ela crescesse e viesse à tona.
- Quero todo o meu potencial de Ser Divino, de Filho de Deus trabalhando a meu favor e não contra mim.
Neste ponto já rubro e encolerizado, bradou em voz alta: - Eu quero meus óculos agora!
Algo brilhou entre as palhas a meio metro de seus pés, abaixou-se mexeu no mato e ali estavam os seus óculos.
Surpreso e tomado de intensa felicidade por ter vivenciado o aprendizado de mais uma lição ergueu suas mãos ao céu e agradeceu a Deus.


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