segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Suicídio - O Grande Equívoco


Vinde a mim, vós todos os que estais 
aflitos sob o fardo, e eu vos aliviarei. 
Tomai meu jugo sobre vós e receberei minha doutrina, 
porque eu sou manso e humilde de coração, 
e achareis repouso para as vossas almas. 
Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve.” (Mt 11. 28-30) 

Segundo Allan Kardec, a passagem do Ser Espiritual pelas encarnações é uma necessidade, que tem como objetivo levar o espírito à perfeição, onde todos são criados simples e ignorantes e se instruem através das lutas e atribulações da vida corporal e, ao mesmo tempo, cumprem sua parte na obra da criação.
De acordo com Altair F. Cunha, nessa linha de raciocínio se encontra uma lógica para o problema do ser, da dor e para o paradoxo do Suicídio. Assim, mesmo que o ser humano sofra desarmonias, não há um determinismo ao suicídio, mesmo que haja tendência, a escolha é individual de sucumbir ou não a ele.
Jamais devemos confundir sujeição do indivíduo ao erro com determinismo ao erro. A sujeição é resultado da própria imperfeição, característica do atual estágio de evolução do homem, seria uma tendência ao erro, com a possibilidade de superação de acordo com o uso do seu livre arbítrio. Já o determinismo seria uma submissão inevitável ao erro.
Na ótica espírita, o suicida é um Espírito imortal, que teve outras oportunidades reencarnatórias, onde - por meio de transgressões às leis da vida - gravou em seu perispírito as desarmonias que hoje o atormentam. Assim, tem em si fatores predisponentes (matrizes), que quando não se encontra amparado pelas ações fortalecedoras (fé, caridade, oração, perdão...) acabam sendo desencadeantes para depressões e obsessões que podem resultar em suicídio. No entanto, o suicídio é sempre um desvio de rota, jamais um programa existencial.
Segundo Richard Simonetti, o perispírito é molde da forma física. Se há desajustes nele devido ao suicídio, o corpo físico será plasmado com alterações variadas, de acordo com a agressão que o indivíduo cometeu contra si mesmo. Cunha, explica que o espírito ao reencarnar, com a mente em desalinho, gera um campo de força específico que atrai os componentes genéticos mais adequados para a sua experiência.
Cunha, afirma que a maioria das pessoas que ameaçam suicidar-se são suicidas em potencial, indo contra o senso comum que apregoa que quem diz que vai se matar não o fará. Ou, aquele velho ditado: Cão que ladre não morde!
O suicídio cria refolhos no ser, predisposições à repetição do ato. Por isso, é muito comum a tendência ao suicídio num Espírito que já foi suicida. Assim, por prudência, em casos reincidentes, onde o efeito da culpa poderia se prolongar indefinidamente é planejada uma reencarnação reparadora, normalmente curta, com o intuito de amortecer as desarmonias vibratórias, voltando o espírito ao plano espiritual mais aliviado dos dramas conscienciais, para preparar-se para novos empreendimentos na carne.
É importante pontuar que os espíritos reencarnam em grupos afins, por isso, não é raro encontrar em algumas famílias uma tendência familiar ao suicídio. Pois o grupo se reúne em ambiente familiar buscando um resgate conjunto.
Vale esclarecer que, embora a ciência desconheça, para o Espiritismo existe um fator considerado um dos mais importantes na sucessão e concretização das ideias suicidas – a obsessão. Que seria a influência perniciosa que certos Espíritos desencarnados exercem sobre os encarnados.
Todo espírito, encarnado ou não, possui livre arbítrio, se tornando assim responsável pelo que acatar das sugestões oferecidas por entidades espirituais. Essas influências podem ser boas ou más, de acordo com o nível de esclarecimento do Espírito que as provocam, da mesma forma que há indutores de ideação suicida há auxiliadores de sugestões positiva.
A vida é um patrimônio individual, entretanto, devido à interdependência através da qual é gerada e perpetuada, torna-se um patrimônio coletivo. Dessa forma, suicidar-se não é apenas um fenômeno de autodestruição, mas, sim, de destruição de esperanças e causa de muitos sofrimentos aos familiares, amigos e outros que de forma direta e indireta se vinculam ao suicida.
De acordo com Cunha, suicídio, na ótica espírita, não é apenas o gesto precipitado de autodestruição realizado por alguém aturdido de suas provações ou pela loucura. Sempre que alguém, através dos excessos e precipitação, provoca desequilíbrios e desgaste físico e mental em si mesmo, será reconhecido como suicida. Assim, conclui-se que os chamados suicidas diretos são a minoria, comparados a outros, denominados suicidas indiretos. Porém, vale ressaltar que os resgates são proporcionais à consciência que se tem dos erros cometidos. Suicídio é uma grave enfermidade do Espírito, podendo ser estimulado por fatores externos.
É comum no meio espírita o pensamento de que todo suicida permanecerá em sofrimento em regiões sombrias, como o Vale dos Suicidas, até que complete o tempo que teria no corpo físico. Não se pode generalizar, pois sempre existirão agravantes e atenuantes. Entretanto, através de revelações dos mentores espirituais, o sofrimento do suicida é superior a qualquer sofrimento que ele tenha experimentado enquanto encarnado. Quanto maior o esclarecimento e a consciência do erro cometido, maior será o sofrimento.
Para entender os motivos do sofrimento do suicida é importante se ter claro que o homem é um composto formado por: espírito, perispírito e corpo físico. O corpo físico é transitório e entra em decomposição algumas horas após o desencarne. Mas o perispírito do suicida, por ter antecipado o seu retorno, entra no plano espiritual impregnado de vitalidade. Sendo ele um corpo intermediário (fluídico), que acompanha o espírito, registra todas as impressões, boas e más advindas do corpo físico. Neste caso, poderá registrar o processo após a morte do corpo.
Simonetti esclarece que os suicidas não perderam a filiação divina, nem estão confinados eternamente em regiões infernais. Deus faz-se presente, representado por mensageiros do Bem que observam e amparam, ainda que, em sua confusão mental e nos tormentos que os afligem, não conseguem ter consciência dessa aproximação.
Segundo Cunha, o suicídio é o maior equívoco que alguém pode cometer. A falta de conhecimento da imortalidade da alma e a falta de fé são fatores complicadores. A vida continua após o estágio no corpo físico. Cada desencarnado acordará no plano espiritual com suas virtudes e vícios, essa é a grande decepção sofrida pelos que ingressaram no Mundo Espiritual pelo suicídio.
De acordo com Simonetti, quem estuda a Doutrina Espírita e cultiva a reflexão em torno de seus princípios, dificilmente colocaria fim à vida, pois tem consciência de que as atribulações existenciais apresentam-se como uma oportunidade de resgate, um reajuste diante das leis divinas, com vistas a um futuro melhor. O suicídio seria uma fuga dos problemas considerados insuportáveis.
Segundo Cunha, a calma, a resignação e a confiança no futuro dão ao Espírito uma serenidade que é o melhor preservativo contra a loucura e o suicídio. Simonetti afirma que a mudança de atitude corrige desarmonias vibratórias que poderão refletir no composto celular em forma de cura. Sempre chega o momento de mudar, a partir do próprio indivíduo, ansioso por libertar-se de seus condicionamentos.

Elizângela Rodrigues Mota

Graduanda em Psicologia

Fontes Consultadas:

BÍBLIA SAGRADA. Edição Pastoral, São Paulo: Ave Maria, 1959.

CUNHA, F. Altair da. Um trágico equívoco: o suicídio e suas consequências conforme o Espiritismo.Matão, SP: O Clarim. 2010.

KARDEC, Allan. O livro do Espíritos. 178ª Araras, SP: IDE Editora, 2008.

SIMONETTI, Richard. Suicídio: Tudo o que você precisa saber. 6ª. ed. Bauru, SP: CEAC, 2012.

terça-feira, 11 de agosto de 2015

Atores e Personagens

Nossa vida diária pode ser comparada à atuação em uma peça teatral, novela ou filme. Absorvemo-nos tanto em nossos papéis temporários que nos esquecemos, por completo, de nossa verdadeira identidade fora de cena.
Algumas pessoas estão fazendo o papel de nossos pais, outras estão atuando como nossos amantes e outras como nossos amigos ou inimigos, mas, na verdade, tudo isso é interpretação; nossa verdadeira identidade é diferente.
Nosso corpo não é nada além de um figurino, mas, iludidos, identificamo-nos com ele e tentamos nos relacionar com o mundo com base nessa fantasia. Os relacionamentos resultantes não são falsos; são reais, mas são temporários e, portanto, ilusórios.
Quando o filme acaba – quando a morte se faz presente – todos os diferentes relacionamentos que cultivamos durante nossa vida estarão acabados, e nosso verdadeiro eu, o espírito individualmente consciente, será transferido para uma nova situação.
Quando o filme acaba, o ator continua sendo a mesma pessoa, porém acrescida da experiência de seu trabalho, provavelmente um ator melhor qualificado para outras interpretações. 
Não podemos esperar que o ator (o espírito) continue sua vida pós-drama carregando os cacoetes e o nome do personagem. Ele volta a ser o quem ele é.
Quando desencarnamos, voltamos à nossa consciência de espírito e não olhamos para trás, pois o drama acabou, olhamos para frente, para o que nos reserva o Universo. Por isso ninguém volta para contar nada. É preciso esquecer o que vivemos para poder seguir em frente, senão ficaríamos presos aos personagens que desempenhamos aqui.
Existem atores de cinema que incorporam de tal forma seus personagens de sucesso que gravam novos filmes com o mesmo personagem. Os Rambos da vida, mas nós não precisamos voltar para viver duas ou mais vezes o mesmo papel.
Nossos laços familiares se desfazem e seguimos em frente cercados de nosso grupo espiritual.

segunda-feira, 27 de julho de 2015

Quitando Débitos


A cada noite, ao me deitar, paro para pensar no que fiz durante o dia e o que não tive tempo ou desejo de fazer. Assim faço porque tenho por premissa que minha vida é eterna, que terei tempo e oportunidade para realizar todos os meus sonhos, desejos e ambições.
Claro que estou considerando minha vida de espírito, que realmente é eterno, pois enquanto persona minha vida é limitada e, por decisão do meu Criador, não conheço sua durabilidade.
Sei que existo porque penso, como enunciou René Descartes "Puisque je doute, je pense; puisque je pense, j'existe" , entretanto não posso me assegurar que amanhecerei todos os dias.
Assim, ao refletir diariamente sobre minha responsabilidade diante de mim, dos outros e do Universo, vejo o quanto deixei para trás. O quanto a dúvida, a falta de convicção, a falta de determinação e conhecimento sobre os fatos, levaram-me a deixar os acontecimentos seguirem sem que eu tenha tomado o firme propósito de realizá-los segundo a minha vontade.
E se não foram realizados segundo o meu desejo, aconteceram sob o comando de outra pessoa, que não necessariamente pensa igual a mim, logo os acontecimentos que fazem parte de minha vida, podem estar realizando outros desejos que não os meus.
Quando vejo minha vida sob esta ótica, percebo que muitas das contradições, desentendimentos e resultados não satisfatórios, acontecem por displicência minha, também, e não só dos outros seres que comigo fazem a caminhada sobre a Terra.
Percebo que tenho desculpas e pedir, perdões a absorver internamente antes de expressar e me esforçar para me manter atento ao que acontece à minha volta, “sempre alerta” como um escoteiro.
Já que a finitude é indiscutível, a impermanência uma lei do Universo, preciso, o quanto antes, quitar minhas pendências não só no âmbito material como também no âmbito das emoções.
A quem devo alguma coisa?
Não, não importa quem me deve, isso é problema deles. Importa a mim o quanto minha consciência está tranquila por ter compartilhado a vida com tantas pessoas e ter dado a elas tantas esperanças, expectativas e ilusões a meu respeito.
O quanto me comprometi ao dizer sim a tudo quanto fui solicitado. Dei conta?
Está bem, não tenho que dar conta de tudo mesmo, mas... consigo ficar em paz comigo se não cumpri o prometido?
Não, creio que não. 
Então preciso, com urgência, fazer um checklist e descobrir o que preciso pôr em dia, resolver e, também, o que preciso encerrar em minha vida para continuar caminhando em paz comigo e com o mundo.

quinta-feira, 9 de julho de 2015

Sobre a Compaixão


Tomando como ponto de partida a frase “Bem-aventurados os misericordiosos, porque obterão misericórdia” escrita por Matheus, com base nos ensinamentos de Jesus, ponho-me a pensar no desdobramento desse postulado considerando que o amor contempla diversas maneiras de se expressar.
O texto supracitado me leva a pensar na essência da palavra misericórdia que é um termo amplo que se refere a benevolência, perdão e bondade em uma variedade de contextos éticos, religiosos, sociais e legais, que me faz pensar, também, em indulgência e compaixão.
A expressão misericórdia tem origem latina, é formada pela junção de miserere (ter compaixão) e cordis (coração). "Ter compaixão do coração", significa ter capacidade de sentir aquilo que a outra pessoa sente, aproximar seus sentimentos dos sentimentos de alguém, ser solidário com as pessoas.
Portanto é uma atitude que traz em seu âmago a força essencial para chegarmos ao perdão.
Costumamos confundir perdoar com esquecer, mas temos que considerar que o esquecimento é orgânico, acontece mesmo sem nossa vontade, por deficiência física no armazenamento dos registros na memória cerebral. Já o perdão é diferente, pois se trata de dissolver um registro emocional.
Perdoar é tarefa para quem tem, realmente, o desejo firme de se reconciliar com o mundo e consigo mesmo. Entender que a porta é estreita e não dá para prosseguir com cargas pesadas e desnecessárias.
A indulgência (do latim indulgentia, que provém de indulgeo, "para ser gentil"), na visão católica é o perdão da pena temporal devida, para a justiça de Deus, ou seja, do mal causado como consequência do pecado já perdoado.
Uma indulgência oferece ao homem, meios para cumprir uma dívida, durante sua vida na Terra, reparando o mal que tenha sido cometido contra alguém.
Na visão espírita, a indulgência: não vê os defeitos de outrem, ou, se os vê, evita falar deles, divulgá-los; jamais se ocupa com os maus atos de outrem, a menos que seja para prestar um serviço; não faz observações chocantes, não tem nos lábios censuras; apenas conselhos e, as mais das vezes, velados.
A indulgência atrai, acalma, ergue, ao passo que o rigor desanima, afasta e irrita.
No budismo esta virtude é chamada de compaixão, que algumas vezes pensamos que é pena, mas que é a noção clara de que todos os seres têm exatamente o mesmo direito à felicidade.
Compaixão (do latim compassione) não deve ser confundida com empatia. A compaixão frequentemente combina-se a um desejo de aliviar ou minorar o sofrimento de outro ser senciente, bem como demonstrar especial gentileza com aqueles que sofrem.
Às vezes, nosso senso de preocupação com o outro depende da atitude que ele adota. Se a pessoa age de forma negativa, nosso senso de compaixão desaparece. Mas um senso de compaixão verdadeiro é o que nos leva a ver o outro como tendo exatamente o mesmo direito que nós à felicidade. A compaixão que se assenta no apego não se sustenta. A que se baseia na compreensão da igualdade de todos os seres é desprovida de apego, e é verdadeira.
Qual é o benefício da compaixão? O Dalai Lama responde que ela nos traz força interior, que geralmente nossa mente centra tudo em nós mesmos. Então, todas as experiências negativas, mesmo pequenas, se tornam muito dolorosas, enormes. Mas quando pensamos nos outros, nossa mente se amplia, e os nossos pequenos problemas se tornam realmente pequenos, e as coisas negativas não prejudicam nossa mente.
A prática da compaixão também é imensamente benéfica para a saúde, pois ativa o sistema imunológico. De acordo com a medicina, os que tem mais compaixão - são mais interessados pelos outros - geralmente são mais saudáveis quando comparados com pessoas egoístas. Os egoístas sofrem mais frequentemente de enfartes e outras doenças.
A mente mais egoísta, mais voltada para si mesma é muito ruim para a saúde. A mente mais compassiva, mais voltada para o próximo traz mais tranquilidade, resultando por isso em saúde muito melhor.
Quando vemos os benefícios de uma mente compassiva, e o mal de uma mente não compassiva, é fácil ver a diferença. Então, voluntariamente iremos analisar e mudar cada vez mais a nossa atitude.

quinta-feira, 2 de julho de 2015

Sobre a Porta Estreita



Quão pequena é a porta da vida! Quão apertado o caminho que a ela conduz! 
A porta estreita de que falam Mateus e Lucas é uma alegoria interessante para quando pensamos sobre o futuro que nos espera.
O amanhã é uma questão instigante para todos nós, pois é incerto e completamente envolto em mistério. Ninguém tem a menor ideia do que será.
É bem verdade que quase todos vivemos sem nos preocupar muito com o futuro, acreditando que tudo será perfeito, que teremos um lugar seguro para aportar, enquanto alguns por só pensar no futuro, deixam de viver no presente.
Quase não nos damos conta que o amanhã será consequência do hoje, assim como o hoje é resultado do que vivemos até então.
Por que Jesus disse que a porta é estreita? Esse filtro faz parte de algum pacote que assinamos para assistir e viver as delícias do Planeta Terra?
Por que passar por essa abertura apertada se o Universo é ilimitado?
Para onde vamos afinal?
Por tudo que li, vi, ouvi e percebi não iremos a lugar específico nenhum. Creio que a alegoria da porta estreita é uma referência a como devemos caminhar na vida, subindo degraus continuamente ad infinitum em direção à perfeição.
Nessa passagem precisamos estar sozinhos – sim, na porta estreita não passam dois – porque o desenvolvimento do ser é feito com o aprimoramento das atitudes, consequentemente do caráter, e isto ninguém pode fazer por nós.
Avançamos sozinhos, entretanto crescendo por meio do convívio com a família e com a sociedade que nos cerca e que nos espelham nossa íntima realidade.
O recado do Mestre é para que continuamente caminhemos livres das tormentas do narcisismo e do orgulho que nos inflam o ego e das quimeras que engrossam nossas mentes com cargas emocionais que não podemos carregar para sempre sobre nossos ombros. Assim acrescidos, inflados, não poderemos passar por porta nenhuma.
A dica do Mestre é para aprendermos a caminhar leves, despojados de falsas autoimagens e sentimentos nocivos e predatórios que não nos acrescentam - na realidade - em nada, apenas nos sobrecarregam e tornam nossa caminhada mais lenta, árdua e sofrida como um corredor polonês.
Para seguir em frente pleno de alegria e contentamento o caminho parece ser o da simplicidade eletiva, fazendo sempre aos outros aquilo que gostaríamos que fizessem conosco.

segunda-feira, 13 de abril de 2015

Simplicidade Eletiva



Consumir é necessário; temos as coisas, dispomos de recursos para fazer uso deles. O consumo pode ser compreendido de forma positiva e sadia. Assim, gastar, utilizar, empregar, são formas consideradas positivas de consumir.
Entretanto, o consumir traz consigo, também, significados negativos, tais como dilapidar, gastar desenfreadamente, pois é possível usar de forma abusiva os recursos, ou depender deles de forma descontrolada, irracional e até patológica.
O desaparecimento das raízes morais faz do prazer o critério fundamental das suas escolhas. As necessidades não existem, mas passam a existir.
Como se sabe, os bens de consumo foram fabricados para não ter grande durabilidade, exatamente para favorecer uma constante busca de compra, mantendo sempre viva as leis de mercado feita pela procura e pela oferta. E a propaganda estimula o consumo, criando necessidades e levando as pessoas a consumir, alimentando a produção e o comércio.
O bem do grupo e da sociedade é de tal modo colocado em segundo plano que o indivíduo - com seus interesses e sua felicidade - se torna a única medida, o único referencial para tantas escolhas e decisões importantes.
Trata-se de uma sociedade onde não há limites. As pessoas são valorizadas enquanto possuidoras de coisas. O estilo consumista glorifica o luxo, o desperdício, o excesso e despreza a austeridade.
Além do consumo, a publicidade se encarrega de apresentar um modelo ideal de vida, um jeito de ser, na maneira de vestir-se, no tipo de lazer, etc. A posse representa, então, a totalidade do sucesso, também para mostrar o próprio status social, o prestígio obtido e o poder que se conseguiu. Quanto maior e mais caro for o bem possuído, tanto mais importância o consumidor possui. Eis porque o consumo deve ser ostentado por estes que entram nesta onda.
Pode-se deduzir, desta mentalidade idólatra e fugaz, o quanto estes estereótipos vão dando o ritmo e vão definindo o jogo da vida, marcado pela aparência e pela dissimulação.
O consumo como comunicação de uma imagem de si torna-se sinal de identidade. O consumo sempre tem valor comunicativo, sinal de privilégio de um grupo determinado. Vem à tona, então, a sociedade da imagem, da aparência e não a do ser. Mais imagem e menos substância.
Quem anseia por uma vida mais simples precisa encarar a situação de frente, sem subterfúgios. As pessoas vivem ocupadas demais, com excesso de bens, contas para pagar, por possuírem coisas demais.
Há quem diga: pare o mundo que eu quero descer! Pois bem, estes são candidatos à simplicidade, inimiga do consumismo. Vida simples não quer dizer uma pobreza auto-imposta ou ambições menos elevadas. Nem muito menos é uma existência vazia e enfadonha. A vida simples não subtrai nada de ninguém, mas até pode acrescentar qualidade e contentamento a quem a deseja.
Por isso, de maneira direta, responda: você tem coisas que não usa e estas coisas estão somente ocupando espaço? Então, livre-se delas! Sua agenda está tão cheia que você nem tem tempo para pessoas ou atividades que são importantes para você? Então aprenda a dizer não. Aprenda a estabelecer prioridades. Aprenda a dizer não sem complexo de culpa, sem remorso, mas com responsabilidade.
Você não é o salvador do mundo. Saiba dizer sim com responsabilidade e generosidade.
O Universo não conduz ninguém a uma vida estressada e complicada. As pessoas chegam lá sozinhas. Por isso, aprecie a simplicidade, aprenda a se divertir sem gastar muito. É possível viver bem sem tantos gastos. É preciso administrá-los e avaliá-los bem. A satisfação verdadeira não está em ter muito ou comprar muito.
Lembre-se: o que você é tem pouca semelhança com o que você possui

domingo, 12 de abril de 2015

O que você é?


De onde você pensa que veio?  Pensa que é simplesmente um amontoado desprezível de massa celular que evoluiu a partir de uma única célula?
Então quem é que escuta tão atentamente por detrás de seus olhos?  Qual é a essência que lhe dá sua unicidade e personalidade, seu caráter e seu "tempero", sua capacidade para amar, para abraçar, para ter esperança, para sonhar, e o poder de criar?
E onde você acumula toda a inteligência, todo o conhecimento, toda a sabedoria que manifesta, mesmo quando é uma criancinha? 
Você pensa que se tornou o que é meramente numa vida, e que é apenas um sopro na eternidade?
Tudo o que você é você se tornou na vastidão do tempo, ao viver vida após vida. E de cada uma dessas experiências de vida, você conquistou a sabedoria que ajudou a formular a unicidade e a beleza chamada você.
 Você não tem preço, é belo demais para ter sido criado por apenas em  um momento delimitado na eternidade do tempo.
Você pensa que seus pais o criaram? Eles são seus pais genéticos, porém não criaram você. Numa compreensão mais ampla, eles são seus irmãos amados e você é na verdade tão velho quanto eles,  pois todas as entidades foram criadas no mesmo momento.
Todas nasceram quando Deus, o grande e magnífico pensamento, contemplou e expandiu a si mesmo na resplandescência da luz.
Foi aí que você veio a existir; foi quando você nasceu. Seu verdadeiro pai é Deus, o Princípio Mãe-Pai de toda vida.
Você pensa que seu corpo é você?  Não é.
Seu corpo é apenas um disfarce que representa a essência invisível que é sua verdadeira identidade: a série de sentimentos-atitudes, chamada sua personalidade, que está dentro de sua incorporação. Pondere isso por um momento: o que você ama em outra entidade?
É o corpo? não, não é.
É a essência do outro que você ama, a personalidade invisível que jaz por detrás dos olhos.
O que você ama no outro é a essência invisível que faz o corpo funcionar, que faz os olhos cintilarem, que torna a voz melodiosa, que faz o cabelo brilhar e as mãos terem tato.
Seu corpo é na verdade uma máquina maravilhosa e refinada, mas não é nada sem aquilo que o faz funcionar, que é você.
O que você é não é sua corporificação, mas uma série de pensamentos ou sentimentos-atitudes que se apresentam como um ser-personalidade único.
E você alguma vez já viu seus pensamentos? Você já viu sua personalidade? E quanto ao seu riso, você pode ouvi-lo sem seu corpo ?
Você não concebe quão grande você realmente é, porque o que você é realmente é tão invisível quanto o vento. Do mesmo modo que eu sou um enigma para você, você o é para si mesmo o maior de todos os enigmas.
Você sabe o que é, sem seu fingimento ? Sem as máscaras que usa? Sem sua armadura de coração endurecido?
No âmago do seu ser, você é na verdade Deus.
Deus, o grande mistério da humanidade, nunca esteve fora de você.
Pois o que está por detrás de seus olhos, por baixo de sua fina roupa de linho, para além da ilusão de sua face, é a virtude invisível do pensamento chamada Deus, que faz você ser você.
O Deus dentro de você é a inteligência sublime que lhe dá crédito e poder de criar. É a maravilhosa força que mantém sua vida para sempre e sempre e sempre.
O corpo que você habita é uma criação magnífica de Deus. Ele foi criado de maneira tal que você, uma essência invisível de pensamento e emoção, pudesse interagir com a vida que você criou sobre este plano.
A criatura chamada homem foi criada simplesmente como um veículo através do qual Deus pudesse expressar-se de tal modo que, através dos sentidos da incorporação, todas as criações sobre este plano pudessem ser experienciadas e compreendidas.
O corpo foi criado para abrigar um sistema elétrico de variáveis de luz extremamente complexo que constituem o verdadeiro ser.
O que você realmente é não é o tamanho de seu corpo.
Você é uma pequena centelha de luz!  Na pequenez de seu ser está coletado tudo que você já foi desde que nasceu de Deus, seu Pai amado.
Você, o princípio-Deus, não é uma entidade de carne e osso. Você é uma energia de princípio de luz circular, chamejante e pura vivendo dentro de um corpo para obter o presente da vida criativa chamado emoção.
O que você verdadeiramente é, é aquilo que você habita, é o que você sente. Você é conhecido por suas emoções, não por seu corpo.
O que você é, realmente, é espírito e alma, uma entidade de luz e uma entidade emocional combinadas.
Seu espírito - esse pequeno ponto de luz - envolve todas as estruturas moleculares do corpo; portanto, ele abriga e suporta a massa de sua corporificação.
Sua alma grava e armazena - sob a forma de emoção - cada pensamento que você já formulou. É devido à coletividade única de emoções armazenadas dentro de sua alma que você tem um ego único.
O corpo que você habita é simplesmente uma carruagem, um veículo escolhido e refinado que lhe permite viver e brincar sobre o plano da matéria. Todavia, através de seu veículo você imergiu na ilusão de que seu corpo é quem você é.
Ele não é.
Assim como Deus não tem imagem, você também não tem.

Ramtha


segunda-feira, 9 de março de 2015

Sobre a Lealdade

Amar é fácil. Tão fácil que pode ser inevitável. A gente ama quem não merece, ama quem não quer nosso amor, ama a despeito de nós mesmos. Tem a ver com hormônios, aparência e sensações que não somos capazes de controlar.
A lealdade não. Ela não é espontânea e nem barata. Resulta de uma decisão consciente e pode custar caro. Ela é uma forma de nobreza e tem a ver com sacrifício. Não é uma obrigação, é uma escolha que mistura, necessariamente, ideias e sentimentos. Na lealdade talvez se manifeste o melhor de nós.
Lealdade não é o mesmo que fidelidade, embora às vezes elas se confundam. Ser fiel significa, basicamente, não enganar sexual ou emocionalmente o seu parceiro. É um preceito, uma regra que se cumpre ou não se cumpre, uma espécie de obrigação. O custo da fidelidade é relativamente baixo: você perde oportunidades românticas e sexuais. Não tem a ver, necessariamente, com sentimentos. Você pode desprezar uma pessoa e ser fiel a ela por medo, coerência, falta de jeito ou de oportunidade. Assim como pode amar alguém perdidamente e ser infiel. Acontece todos os dias.
Lealdade é outra coisa. Ela vai mais fundo que a mera fidelidade. Supõe compromisso, conexão, cuidado. Implica entender o outro e respeitá-lo no que é essencial para ele - e pode não ser o sexo. Às vezes o outro precisa de cumplicidade intelectual, apoio prático, simples carinho. Outras vezes, a lealdade requer sacrifícios maiores.
A lealdade está amparada em valores, não apenas em sentimentos. É fácil cuidar de alguém quando se está apaixonado. Mais fácil que respirar, na verdade. Mas o que se faz quando os sentimentos desaparecem – somem com eles todas as responsabilidades em relação ao outro? Sim, ao menos que as pessoas sejam movidas por algo mais que a mera atração. Se não partilham nada além do desejo, nada resta depois do romance. Mas, se houver cumplicidades maiores, então se manifesta a lealdade. Ela dura mais do que os sentimentos eróticos porque se estende além deles.
O romantismo, embora a gente não o veja sempre assim, é uma forma exacerbada de egoísmo. Meu amor, minha paixão, minha vida. Minha família, inclusive. Tem a ver com desejo, posse e exclusividade, que tornam a infidelidade insuportável, a perda intolerável. As pessoas matam por isso todos os dias. Porque amam. É um sentimento que não exige elevação moral e pode colocar à mostra o pior de nós mesmos, embora pareça apenas lindo.
Minha impressão é que o mundo anda precisado de lealdade. Estamos obcecados pela ideia da fidelidade porque a infidelidade nos machuca. Sofremos exacerbadamente porque o mundo, o nosso mundo, não contém nada além de nós mesmos, com nossos sentimentos e necessidades. Quando algo falha em nossa intimidade, desabamos.
Talvez devêssemos pensar de forma mais generosa. Talvez precisemos nos apaixonar por ideias, nos ligar por compromissos, cultivar sonhos e aspirações que estejam além dos nossos interesses pessoais. Correr riscos maiores que o de ser traído ou demitido. O idealismo, que tem sido uma força de mudança na conduta humana, precisa ser resgatado. Não apenas para salvar o planeta e a sociedade, mas para nos dar, pessoalmente, alguma forma de esperança. A fidelidade nos leva até a esquina. A lealdade talvez nos conduza mais longe, bem mais longe.
Ivan Martins
Revista Época

sábado, 7 de março de 2015

Sobre o Respeito

Uma boa dose de respeito próprio pode ajudar-nos a alcançar nossos objetivos, a manter relacionamentos saudáveis e conseguir com que todos ao nosso redor enxerguem-nos como pessoas de bem.
Quanto mais nos conhecermos, mais apreciaremos nossa singularidade. Para respeitar a nós mesmos, precisamos saber que, enquanto personagens, não somos perfeitos.
É importante ouvir a opinião dos outros a nosso respeito. A crítica construtiva pode ajudar-nos a alcançar nossas metas. Algumas vezes, é difícil diferenciar a crítica construtiva passada de maneira dura da maléfica dita de maneira suave.
Você precisa se sentir confortável consigo e aprender a ser feliz com tudo aquilo que você ama em si mesmo, e aceitar as partes menos belas, especialmente as imutáveis. Pare de inventar desculpas para seus erros e de dizer que você só se amaria se fosse diferente. Comece a amar a pessoa que você realmente é.
Se você costuma imaginar o pior em todas as situações, será impossível se sentir bem consigo ou respeitar a si próprio.
Ainda que pareça ser difícil, sua sensação de valor próprio e de felicidade precisa vir de dentro de seu próprio ser, e não das pessoas que o cercam. Óbvio que alguns elogios ou presentes podem fazê-lo se sentir melhor, porém sua felicidade e satisfação precisam vir de dentro.
Não permita que as pessoas digam quem você é: impeça-as de lhe fazerem se sentir pequeno; não deixe que elas duvidem de suas crenças e não faça isso com os outros.
Se quiser respeitar a si mesmo, então você precisa acreditar nas decisões que tomou. Aprenda a permitir que os outros discordem de você e até lhe odeiem.
Se você permitir que as pessoas mudem as suas próprias concepções ou ideias, então os outros acharão que suas convicções não são muito fortes nem originais. Assim que você acreditar em você mesmo, será difícil permitir que pessoas negativas lhe perturbem.
Se quiser respeitar a si mesmo, você precisará começar a respeitar as pessoas que lhe cercam, então seja honesto com os outros, não roube, prejudique ou insulte os outros, escute o que os eles têm a dizer e evite interrompê-los.
Uma pessoa com respeito próprio não permite que os outros a tratem mal e não se associa a alguém desrespeitoso. Quando alguém não lhe respeitar, você precisa aprender a se afastar de tal pessoa como nos ensina Walter Riso em seu livro "Amar ou Depender".
Não é fácil deixar de lado uma pessoa que lhe desrespeitou, principalmente se ela for muito importante para você. Aprenda a reconhecer um relacionamento manipulativo ou controlador. Pode ser difícil enxergar quando pessoas próximas estão sendo desrespeitosas, especialmente se elas agirem de maneira sutil e ardilosa. Fica pior quando a pessoa é uma amiga de longa data ou seu grande amor.
Pare de ser carente! Muitas vezes, em namoros ou em amizades, permitimos que as pessoas se aproveitem de nós por nos sentirmos carentes. Aprenda a lidar com o fato de que você não precisa depender de alguém para ser feliz.
Pare de ser bajulador! É cristão ficar atento às necessidades dos outros, mas não se esqueça de lidar com seus próprios problemas.
Respeite seu corpo. Não o insulte por sua aparência natural. Faça um esforço para entrar em forma e permanecer saudável, mas não se deprima por aquilo que é incontrolável, como suas proporções. Foque nas coisas que você pode mudar e melhorar, e faça-o por querer se sentir bem, e não por achar que seu corpo não é belo o bastante.
Se quiser respeitar a si mesmo, então você precisará aprender a perdoar as pessoas que cometeram erros com você. Isso não significa que deva ser o melhor amigo delas, mas sim, que deve entender e aceitar o que aconteceu e aprender a seguir adiante. Se você estiver desperdiçando todo o seu tempo com mágoas e ressentimentos, será impossível viver plenamente no presente.
Se você realmente quer respeitar a si mesmo, terá de admitir seus erros. Se você fez besteira, permita que as pessoas saibam de sua sensação de responsabilidade. Se você aprender a admitir seus erros, as pessoas lhe respeitarão muito mais e confiarão em seu caráter. Isso é especialmente verdadeiro para relacionamentos. É quase impossível ter respeito próprio se você estiver namorando alguém que lhe machuca.
Pare de se diminuir. Uma coisa é rir de si mesmo, o que demonstra que você não leva suas falhas tão a sério e não está obcecado em parecer perfeito. Se você se diminuir, encorajará os outros a fazer o mesmo com você.
Respeitar a si mesmo não significa julgar-se perfeito e que não há nada que precise ser melhorado. Você não pode se transformar de imediato. É preciso muita dedicação e persistência. Ainda assim, dar os primeiros passos para se tornar alguém que você respeite lhe fará se sentir mais confiante.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

O Ego e o Espelho

Pensei em escrever algo sobre o ego, mas encontrei em meus arquivos um texto do Osho publicado em “A a Z: Um Diário Espiritual do Aqui e Agora”, que acho muito bom, então o compartilho com vocês.
“Todos nós nascemos sem um ego. Quando uma criança nasce, ela é apenas consciência: flutuando, fluindo, lúcida, inocente, virgem, sem ego.
Aos poucos, o ego é criado pelos outros.
O ego é o efeito acumulado das opiniões dos outros sobre você. Um vizinho chega e diz: Que criança bonita! Olha para a criança com um olhar de apreciação. Então o ego começa a funcionar. Alguém sorri, uma outra pessoa não sorri.
Algumas vezes a mãe é muito carinhosa, outras vezes está muito zangada. E a criança vai aprendendo que não é aceita como ela é.
Seu ser não é aceito de forma incondicional: há condições a serem satisfeitas. Se ela grita e chora e há visitas na casa, sua mãe se zanga. Se ela grita e chora, mas não há visitas na casa, sua mãe não se importa. Se ela não grita, nem chora, sua mãe a recompensa sempre com beijos amorosos e com carinho. Quando há visitas, se a criança sabe ficar quieta, em silêncio, sua mãe fica muito feliz e a recompensa.
A criança vai aprendendo as opiniões dos outros sobre si mesma olhando no espelho dos relacionamentos.
Você não pode ver a sua face diretamente. Você tem que olhar em um espelho, e no espelho você pode reconhecer sua face. Esse reflexo se torna sua ideia de sua face, e há milhares de espelhos a seu redor, todos eles refletindo algo.
Alguém o ama, alguém o odeia, alguém é indiferente. E então, aos poucos, a criança cresce e continua acumulando as opiniões de outras pessoas.
A essência total dessas opiniões dos outros constitui o ego. A pessoa começa a olhar para si mesma da forma como os outros a veem. Começa a se olhar de fora: isso é o ego.
Se as pessoas gostam dela e a aplaudem, ela pensa ser bela, estar sendo aceita. Se as pessoas não a aplaudem e não gostam dela, rejeitando-a, ela se sente condenada.
Ela está continuamente procurando formas e meios para ser apreciada, para ser repetidamente assegurada de que possui valor, que possui um mérito, um sentido e um significado.
Então a pessoa passa a ter medo de ser ela mesma. É preciso encaixar-se na opinião dos outros.
Se você deixar de lado o ego, subitamente se tornará novamente uma criança. Você não estará mais preocupado com o que os outros pensam sobre você, não prestará mais atenção àquilo que os outros dizem de você.
Nesse momento, terá deixado cair o espelho. Ele não tem mais sentido: a face é sua, então por que perguntar ao espelho?"

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Sobre a Finitude

Com a revolução industrial, passou a predominar a crença  de que uma qualidade de vida superior resulta  de melhores condições materiais, acumuladas no decorrer da vida.
Passou-se a enaltecer valores como conforto, vida regrada , casamento feliz, trabalho que renda bens materiais, com o prestígio daí resultante. 
Esqueceu-se  de que esses valores, ainda que desejáveis, são sempre exteriores, podem exigir  muitos anos  de empenho, e nem sempre  são obtidos por meios lícitos. Acarretam uma preocupação exagerada com o status quo, deixando de lado a vida interior.
Infelizmente, essa  perda só é percebida quando o indivíduo se dá conta do que deixou passar, por não ter cultivado a sua espiritualidade, ocupando o seu cérebro com ideias de como ganhar mais dinheiro. Nesse período, em que ficou mergulhado no mundo exterior, provavelmente, já adquiriu alguma doença incapacitante.
Viver bem não é só continuar existindo e o sentido da vida não é só sobrevivência, mesmo que seja nas melhores condições materiais.
O caminho para  desenvolver  um estilo de vida  saudável consiste em manter a alegria de viver, criar coisas novas, conviver bem com as pessoas próximas, com a natureza e com o Universo. Esse estilo de vida vai determinar  um envelhecer bem sucedido e não deve ser confundido com o cultivo do prazer dos sentidos.
Cuidar de si é uma arte, um privilégio, com autonomia  para não se sujeitar  às conveniências do lazer exterior.
Quando o indivíduo se dá conta da finitude, pelas próprias  limitações da existência, deve contentar-se com as suas realizações, sem reter amarguras e frustrações, bem como raiva e inveja, sentimentos prenunciadores de doenças.
Como ensinam as ciências da vida e da saúde e a reflexão filosófica e religiosa, mas também e - sobretudo a própria experiência cotidiana - morte, finitude e vulnerabilidade são características intrínsecas dos sistemas vivos, os quais são sistemas jogados no mundo e situados no tempo, submetidos a um processo irreversível que inclui o nascer, o crescer, o decair e o morrer.
Trata-se de um fato incontestável perante nossos sentidos: todos os seres vivos, inclusive os humanos, morrem. Morrem porque estão vivos, porque como sistemas irreversíveis são programados biologicamente para morrer e, talvez, devam morrer para que outros seres da mesma espécie possam vir a ser.
Por isso, não podemos ter certezas acerca das crenças sobre nossa morte. De fato, a ciência teve poucas certezas ao longo de sua breve história, sendo que hoje ela não tem mais nenhuma.
Sendo assim, vida e morte devem ser consideradas como as duas faces inseparáveis da existência humana, durante a qual são mediadas pelas situações de finitude chamadas vulnerabilidade.
Por isso, para Sêneca, um dos homens mais poderosos de Roma, viver é aprender a morrer.